Num balanço do ano de 2022 feito à imprensa, Guterres realçou o “poder da diplomacia determinada e discreta” perante a guerra da Rússia da Ucrânia, nomeadamente no desbloqueio de mais de 14 milhões de toneladas métricas de alimentos que estavam retidos nos portos ucranianos, através da Iniciativa de Cereais do Mar Negro, alcançada com Kiev e Moscovo após a mediação da Turquia e da própria ONU.

“O nosso mundo enfrentou muitas provações e testes em 2022 — alguns familiares, outros que talvez não imaginássemos. Pode haver muitos motivos para desespero. As divisões geopolíticas tornaram a solução de problemas globais cada vez mais difícil — às vezes impossível”, começou por dizer o líder das Nações Unidas.

“Mas termino este ano com uma convicção primordial: Este não é um momento para ficar à margem, é um momento de resolução, determinação e — sim — até esperança. Porque, apesar das limitações e das longas adversidades, estamos a trabalhar para resistir ao desespero, lutar contra a desilusão e encontrar soluções reais. Não são soluções perfeitas — nem sempre soluções bonitas — mas soluções práticas que fazem uma diferença significativa na vida das pessoas”, disse.

Num ano marcado por várias guerras em diversas zonas geográficas, o ex-primeiro-ministro português afirmou que o mundo viu “nos últimos meses um renascimento da diplomacia”, que “ajudou a afastar da rutura vários conflitos”.

“Mesmo na guerra brutal na Ucrânia, vimos o poder da diplomacia determinada e discreta para ajudar as pessoas e enfrentar níveis sem precedentes de insegurança alimentar global”, frisou.

Isso inclui cerca de 380.000 toneladas métricas transportadas pelo Programa Alimentar Mundial para apoiar as operações humanitárias em andamento em países como o Afeganistão, Etiópia, Somália e Iémen, segundo o secretário-geral.

Esses movimentos alcançados pela “diplomacia discreta” permitiram, de acordo com a ONU, que o Índice de Preços de Alimentos da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) diminuísse ao longo de oito meses consecutivos — cerca de 15% — evitando que milhões de pessoas em todo o mundo caíssem na pobreza extrema.

“Mas resta-nos muito trabalho. Os preços dos alimentos ainda são muito altos e o acesso a fertilizantes ainda é muito limitado. (…) E não cederemos na busca pela paz na Ucrânia, de acordo com o direito internacional e a Carta das Nações Unidas”, sublinhou Guterres.