Sete décadas depois, o Estado judaico celebra a sua fundação com um novo alento, enquanto permanecem bloqueadas as conversações de paz internacionais para um acordo global e que deveriam implicar uma solução de dois Estados, judeu e palestiniano, que conviveriam lado a lado e com capital cada um numa das duas partes de Jerusalém.

No final de dezembro, os Estados Unidos do Presidente Donald Trump, principal aliado de Israel, decidiram reconhecer Jerusalém como capital indissolúvel do Estado hebraico, originando fortes protestos entre os palestinianos e a reprovação internacional.

A transferência da embaixada norte-americana de Telavive para a “cidade eterna” está prevista para 14 de maio, o dia das celebrações oficiais sobre a fundação de um Estado cuja concretização e objetivos políticos começaram a ser delineados em finais do século XIX.

O sionismo, movimento destinado à instalação das populações judaicas na Palestina, tinha encontrado a sua primeira expressão política em 1896 no livro “O Estado dos judeus”, do jornalista e escritor judeu austro-húngaro Theodor Herzl, fundador do sionismo político.

Um ano mais tarde, o primeiro congresso sionista proclama que “o sionismo aspira em criar, para o povo judeu, um lar na Palestina (…)”.

Para concretizar o seu projeto de um Estado judaico, Herzl decide lançar uma campanha internacional e desenvolve contactos com personalidades influentes do mundo político, religioso e dos negócios, designadamente a rica família dos Rothschild – de origem judia alemã com diversas nacionalidades, num momento em que o barão Edmond de Rothschild tinha já começado, desde 1882, a comprar terras na Palestina – e o financeiro Maurice de Hirsch.

O antissemitismo e os “pogroms” na Europa de leste neste período aceleram a chegada dos judeus à Palestina. Em 1895 já são 47.000, contra 24.000 em 1882. A esmagadora maioria da população dessa região, então ainda integrada no Império otomano, era de origem árabe palestiniana.

Em novembro de 1917, e quando se perspetivava a derrota das potências centrais e do Império otomano na Primeira Guerra Mundial, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico Arthur Balfour, manifesta o apoio do Reino Unido às aspirações sionistas na Palestina, através do estabelecimento de um “lar nacional judaico”.

Nascia a “declaração Balfour”, que o chefe da diplomacia de Londres dirigiu ao barão e banqueiro Lionel Walter Rothschild, do ramo britânico dos Rothschild, e transmitida à Federação sionista. Em paralelo, perspetivava-se o início do mandato britânico sobre a Palestina, confirmado pela Sociedade das Nações em 1922.

O plano de um “Estado dos judeus” será concretizado após o fim do mandato britânico na Palestina em 1947, e quando diversas vagas de Aliyah – a designação de imigração judaica –, vinham reforçando a sua presença no território.

A subida ao poder de Hitler na Alemanha intensificou as vagas migratórias. No final da II Guerra Mundial, os judeus já representavam 33% da população da Palestina (11% em 1922). Antes, entre 1936 e 1939, este fluxo já tinha originado a Grande Revolta árabe contra o colonialismo britânico e a imigração judaica, reprimida de forma implacável.

Em paralelo, organizações sionistas armadas desencadeiam uma rebelião contra o “ocupante” britânico e aumentam a pressão sobre as populações palestinianas, e as suas terras.

Em novembro de 1947, na sequência de uma votação muito polémica na ONU, é aprovada a partilha da Palestina em dois Estados, um judeu e um árabe. O plano é aceite pelos dirigentes sionistas, mas rejeitado pelos líderes árabes.

Numa sexta-feira, 14 de maio de 1948, os membros do Conselho nacional judaico são convocados para o museu de Telavive, terreno neutro nos planos político e religioso, e ali David Ben Gourion apresenta a “declaração de independência” que lê em alta voz.

“Nós, membros do Conselho nacional, representando a comunidade judaica da Palestina e o movimento sionista mundial, reunidos hoje em Assembleia solene, dia do fim do mandato britânico (…) em conformidade com a resolução da Assembleia geral da ONU, proclamamos a criação do Estado judeu da Palestina com o nome de Israel”. A sessão prolonga-se apenas por 32 minutos, após cada membro do Conselho ter colocado a assinatura no documento de “independência”.

Apesar do secretismo que envolveu esta cerimónia, milhares de pessoas invadem em euforia as ruas próximas do edifício situado na Avenida Rothschild, no centro da cidade, e seguem os acontecimentos através de altifalantes.

No entanto, depressa as ruas se esvaziam, devido à celebração do ‘shabbat’, o dia de descanso semanal do judaísmo, e ainda pelo receio de um ataque árabe. Os exércitos de diversos países árabes tinham anunciado que entrariam na Palestina após o fim oficial do mandato britânico.

Em 15 de maio, um dia após a declaração independentista, cinco países árabes – Síria, Egito, Transjordânia (atual Jordânia), Líbano e Iraque – entram em guerra contra o novo Estado.

A “guerra da independência” termina em 07 de janeiro de 1949 por um cessar-fogo que permite a Israel confirmar a extensão do seu território inicialmente concedido pela ONU (14.000 Km2) para 21.000.

Na sequência de uma operação de “limpeza étnica”, iniciada mesmo antes da guerra de 1948 e se intensificou desde então, entre 800.000 e um milhão de palestinianos foram forçados ao êxodo pelo avanço das forças judaicas ou por expulsões forçadas. Perto de 400 povoações são literalmente arrasadas. Este exílio forçado é designado “Nakba” (catástrofe em árabe) pelos palestinianos, e desde então continua a ser evocado.

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