“Votei Bolsonaro porque estamos numa crise violenta no meu país, e espero que melhore, estou há 14 anos em Portugal, e acredito que Bolsonaro vai mudar o Brasil, chega de roubalheira, há muita corrupção e violência, e quero ver os meus netos criados num país com liberdade, e hoje o Brasil não é livre por causa da violência”, disse Ana Teixeira, higienista oral, momentos depois de votar na Faculdade de Direito, em Lisboa.
Os brasileiros com quem a Lusa falou ao princípio da tarde em Lisboa dividem-se entre os candidatos, apresentando argumentos diferentes para escolher Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.
“O país ficou uma porcaria, [o PT] destruiu o Brasil, então, não queremos mais, é uma opção, e a única opção que tivemos foi essa [Bolsonaro]. Pode não ser o salvador da pátria, mas vai dar um jeito de mudar a situação caótica em que se encontra o Brasil”, vaticinou Ana Teixeira, que falou à Lusa enrolada numa bandeira brasileira.
Quando questionada sobre em quem votou e porquê, Andreia Sousa, uma estudante de mestrado em Lisboa deixa claro o porquê de escolher Haddad: “Temos de defender a democracia hoje e sempre e lutar contra um candidato que é declaradamente fascista, apoia a tortura e não defende todos os valores democráticos no Brasil”, respondeu.
Questionada, então, pelos motivos que levam as sondagens a dar vitória a Bolsonaro, explicou: “Acontece principalmente pela grande desinformação da população brasileira sobre as ‘fake news’ e porque não conseguimos ter um debate político, com ideias políticas e propostas”, disse a estudante universitária, desafiando o frio para envergar uma t-shirt com a famosa hashtag #Elenao”.
A campanha, defendeu, “começou há uns cinco anos, é uma campanha baseada em mentiras, falsos testemunhos, onde o debate político deixou de existir e em função disso, com uma população heterogénea e com uma compreensão diferente da realidade, transformou-se num caldeirão antidemocrático”.
O poder das campanhas é uma das razões que a professora universitária Miriam Reis de Andrade escolhe para justificar as sondagens que dão a vitória a Bolsonaro, mas salienta que o Partido dos Trabalhadores, com o qual simpatiza, tenha “conseguido nos últimos dois dias [fazer com que] o povo acredite que há possibilidade de ‘virada'”.
As ‘fake news’, diz a professora, “foram patrocinadas pelo dinheiro do Steve Bannon [antigo estratega da campanha de Donald Trump] e das grandes corporações dos EUA e fez com que grande parte da população tivesse acesso a mentiras sobre o candidato da esquerda, sobre Lula, principalmente, e sobre o PT”.
Nas entrevistas que a Lusa foi fazendo com quem saía da Faculdade de Direito, as ‘fake news’ foram usadas também por Catarina Melo, uma jurista de 49 anos, mas em sentido contrário.
Quando questionada sobre a razão de apoiar Bolsonaro apesar das declarações polémicas sobre os direitos das minorias, entre outras, respondeu: “Isso é história, é a oposição, que diz que ele é contra os negros e ‘gays’, ele não é contra isso, não, isso é os meios de comunicação social que pregam muito para queimar a imagem do Bolsonaro, a realidade não é essa”.
Catarina Melo admite que “Bolsonaro não vai solucionar tudo”, mas argumenta que “com Bolsonaro e militares na rua vamos ter mais segurança, o maior problema do Brasil é a insegurança, para além da saúde pública e da educação”.
Lá no Brasil “não se anda tranquilamente na rua, como aqui”, diz, admitindo que essa foi a principal razão para ter emigrado para Portugal há quatro anos.
Cerca de 147,3 milhões de eleitores são chamados hoje às urnas para decidir quem será o próximo Presidente da República brasileiro, numa disputa entre a extrema-direita, com Jair Bolsonaro, e a esquerda, com Fernando Haddad.
Além da corrida para o cargo de Presidente, os brasileiros terão também de escolher os próximos representantes no parlamento (Câmara dos Deputados e Senado) e nos governos regionais que não ficaram definidos na primeira volta, que se realizou a 07 de outubro.
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