
Para Jaime Nogueira Pinto, 2024 foi um ano de “grandes mudanças, para melhor”, defendendo que o regresso de Trump à Casa Branca não representa uma ameaça à democracia nos Estados Unidos.
“Donald Trump vai fazer, como fez Biden, ou como fez Obama, ou como fez Clinton, ou como fez Nixon. Como todos os Presidentes, vai procurar aproveitar o mais que possa dentro do regime, para as suas ideias e para os seus propósitos. Mas não creio que vá alterar substancialmente o regime”, afirmou o historiador.
“O mundo já foi afetado por monstros bastante piores. Há 80 anos o mundo tinha monstros bastante piores. O Stalin e o Mao Zedong eram bastante piores do que os que cá estão agora”, disse Jaime Nogueira Pinto.
Marina Costa Lobo, investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, defendeu, por outro lado, que o regresso de Donald Trump ao poder em 2024, “o ano de todas as eleições”, assinala o caminho dos Estados Unidos em direção a “um regime de autoritarismo competitivo”.
“Vários politólogos norte-americanos que seguem a atualidade daquele país, alertaram para o facto de os Estados Unidos estarem a caminhar para um regime de autoritarismo competitivo, no sentido em que continua a haver toda a arquitetura democrática, mas em que as ordens executivas, por vezes, ferem a Constituição. Além disso, há também uma atitude um pouco agressiva, com os ‘media’, o que poderá comprometer a liberdade de imprensa”, afirmou a politóloga.
Jaime Nogueira Pinto e Marina Costa Lobo falaram à margem da apresentação do Anuário 2024 da agência noticiosa portuguesa Lusa, acompanhada de um debate com ambos os politólogos e moderado pelo jornalista Carlos Vaz Marques.
Para ambos os politólogos, as razões que levaram às mudanças políticas no mundo, foram, principalmente, “as questões económicas, que atingem pessoas com grandes dificuldades”, mas também a insegurança e a imigração.
“Historicamente, quando os níveis de insegurança atingem um certo grau, as pessoas não se importam de, muitas vezes, sacrificar as suas liberdades pela segurança. É isso que leva a esse descontentamento e que leva às pessoas a procurar novas soluções”, frisou Jaime Nogueira Pinto.
“O ano 2024 é interessante porque, em todas as eleições, sem exceção, os governos perderam votos. Foram castigados por todo o mundo e isso foi a única vez que isto aconteceu desde 1950. Tem muito a ver com questões económicas, com o custo de vida e a inflação. Mas a questão da imigração tem-se tornado um fator também muito importante”, afirmou Marina Costa Lobo.
A politóloga alertou também para a crise que os ‘media’ tradicionais enfrentam, agravada pelo surgimento das novas redes sociais e pelas grandes empresas.
“Os ‘media’ tradicionais estão em crise e não têm muita capacidade de ação. Mas as redes sociais e as grandes empresas tecnológicas são importantes nestas transformações, pois hoje em dia são as redes sociais que determinam, através dos seus algoritmos, aquilo que as pessoas leem. Portanto acabam por se tornar nos jornais de hoje que, se não dizem como devemos pensar, dizem no que é que devemos pensar”, salientou.
Sobre a ação do Tribunal Supremo romeno, que anulou a primeira volta das eleições no dia 06 de dezembro de 2024 e ordenou o reinício do processo eleitoral, Jaime Nogueira Pinto defende que foi justificada de forma “bastante absurda”.
“A ação do tribunal, sobretudo, foi justificada com um pseudoenvolvimento da Rússia na opinião dos eleitores, o que me pareceu bastante absurdo. Os russos não obrigaram os eleitores a votar em nada. Pareceu-me um absurdo e uma decisão má, porque atinge exatamente a separação dos poderes” salientou.
O ultranacionalista Calin Georgescu venceu inesperadamente a primeira volta das eleições presidenciais de 24 de novembro, com 23% dos votos, à frente da candidata europeísta Elena Lasconi (19%), mas o Tribunal Constitucional romeno anulou a primeira volta destas eleições.
A inauguração do Anuário Lusa 2024 foi acompanhada da exposição de fotografias dos fotojornalistas da agência noticiosa e decorreu hoje no El Corte Inglés, onde até 13 de março está patente a exposição das fotografias que constituem o Anuário.
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