A obra “Fátima: Lugar Sagrado Global”, de autoria dos historiadores José Eduardo Franco e Bruno Cardoso Reis, é apresentada na quarta-feira às 18:00, no auditório Sedas Nunes do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.
Os dois historiadores afirmam na introdução que nesta obra optaram por “conjugar uma análise mais histórica e outra mais teológica, abordando o tema [Fátima] a partir da dimensão antropológica dos estudos da religiosidade e da análise do seu forte impacto na vida nacional e internacional”.
José Eduardo Franco e Bruno Cardoso Reis estão de acordo que “Fátima está longe de ser uma simples fraude”, pois “se o fosse, já há muito teria sido provada”, e consideram que é antes “uma complexa questão de fé que merece ser estudada sob vários ângulos”.
Por outro lado, os dois historiadores rejeitam o “preconceito de que as religiões são uma superstição irrelevante na época contemporânea”.
“Quem ainda mantém essa crença na irrelevância das fés religiosas não tem prestado atenção ao que se tem passado no mundo nas últimas décadas”, sentenciam os autores, segundo os quais “subestimar o poder das ideias e das convicções e olhar apenas para o poder na sua dimensão puramente militar é algo que cada vez tem menos defensores, até no campo da estratégia política e militar”.
Os historiadores citam o líder soviético Estaline, que durante a II Grande Guerra questionou os seus aliados, “preocupados em manter uma posição favorável ao papado”, sobre quantas divisões tinha o papa.
“Ora, o papado continua de pé hoje e foi a URSS de Estaline que entrou em colapso”, salientam os autores, segundo os quais “foi este erro que Fátima tornou manifesto com a sua inesperada aparição no palco da história nacional e mundial numa era de guerras globais, mas também de choques entre convicções religiosas e convicções laicas”.
“Fátima nasceu como santuário de referência internacional, tendo sido edificado a partir de uma experiência de hierofania, ou seja, de manifestação do sagrado e, mais concretamente neste caso, de marianofania, com a aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos”, escrevem.
A obra “Fátima: Lugar Sagrado Global”, editada pelo Círculo de Leitores, profusamente ilustrada, divide-se em três capítulos – “Contexto e (re)conhecimento”, “Afirmação e globalização” e “Aparições e perceções”, divididos em subcapítulos -, e ainda uma introdução, onde os autores expõem os princípios que os guiaram na concretização do texto, e uma conclusão, na qual expressam a sua convicção de que “Fátima é um santuário global” e que “a fama das suas aparições, o movimento peregrinacional que suscitou a invocação de N.S. de Fátima que propagou, espalharam-se por todos os continentes”.
Ao longo da obra, há vários textos em caixa que remetem para questões concretas como a “devoção dos cinco primeiros sábados”, o “interesse dos setores monárquicos por Fátima”, a “visita do Presidente Carmona e de Salazar a Fátima em 1929”, a “hiperconcentração de padres, frades e freiras em Fátima”, ou a “atração de ordens e congregações religiosas”.
Bruno Cardoso Reis é investigador no ICS e no Centro de Estudos de História Religiosa, da Universidade Católica Portuguesa, tem variadas publicações sobre temáticas de história e relações internacionais, nomeadamente “Salazar e o Vaticano”, que lhe valeu os prémios Vítor de Sá de História Contemporânea e Aristides de Sousa Mendes de Relações Internacionais.
José Eduardo Franco é doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris, coordenou vários projetos de investigação, entre os quais o Arquivo Secreto do Vaticano. Publicou estudos sobre os jesuítas e o marquês de Pombal, o padre António Vieira, tendo sido um dos coordenadores da edição da obra completa do padre António Vieira, editada também pelo Círculo de Leitores.
O papa Francisco será o quarto papa a visitar Fátima, a 12 e 13 de maio, e vai presidir ao centenário das “aparições” na Cova da Iria.
Os anteriores papas a estar em Fátima foram Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991, 2000) e Bento XVI (2010).
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