Com aeronaves de seis países, cerca de 1.200 militares estão mobilizados para montar e pôr a mexer uma verdadeira força multinacional que vai ter de saber falar entre si para salvar vidas de refugiados e abater terroristas.
Para o coordenador do exercício, o tenente-coronel João Rosa, o helicóptero tornou-se mais atual com as "guerras 'ombro a ombro'" que se travam em locais como Afeganistão, Líbia ou Síria, em que não há linhas da frente perfeitamente definidas e onde combatentes podem estar completamente rodeados por forças hostis.
É aí que entra "uma arma imprescindível" que permite movimentar tropas a curta distância "com alguma segurança, rapidez e poder de fogo" que é mais difícil de abater do que, por exemplo, um carro de combate.
Nos céus por cima da base aérea de Beja ouve-se periodicamente o troar dos rotores que levantam a caminho de missões em que se treina com fogo real, se faz inserção de tropas dos Comandos em território supostamente hostil, se levam mantimentos e assistência médica a campos de refugiados imaginados, ao mesmo tempo que se mantêm os agressores à distância.
Na placa da base, militares das forças especiais portugueses rodeiam um enorme aparelho CH-47 Chinook da Real Força Aérea holandesa, sobre o qual ficam a saber o necessário para embarcar e ser levados até ao campo de batalha simulado em segurança.
As missões partem de Beja, mas decorrem em outras instalações militares espalhadas pelo país. O cenário do exercício é um pequeno país rodeado de uma nação hostil que a quer anexar e patrocina ataques terroristas aos campos de refugiados instalados na fronteira.
Mesmo com tantos uniformes e nomes estrangeiros, é impossível confundir o país imaginado para o exercício com outra coisa que não o Alentejo, como mostra o rebanho que pasta à entrada da Base Aérea n.º 11, vigiado pelo pastor que descansa à sombra do F-104 alemão em exposição.
Para as forças da Alemanha, Bélgica, Holanda, Hungria e Eslovénia que estarão baseadas em Beja até 23 de maio, chegar ao Alentejo foi em si uma forma de treino.
"Foi o maior desafio até agora. Demorámos dois dias, foram 14 horas de voo e 3.000 quilómetros, com cinco paragens para reabastecimento", disse à Lusa o tenente-coronel Endre Daróczi, da Força Aérea húngara.
A Alemanha deslocou alguns dos seus helicóperos NH-90 num gigantesco avião de carga Antonov, enquanto a Holanda mandou os seus de navio até ao Porto de Sines e moveu para Beja dezenas de camiões com material para usar durante o exercício.
"Para os países, é muito oneroso", assinala João Rosa, indicando que, ao acolher o exercício, os militares portugueses conseguem trazer o treino até si.
O contexto de intervenção multinacional é o mesmo em que os militares portugueses têm sido enviados para o exterior.
Participar em exercícios no exterior seria "extremamente dispendioso" para as Forças Armadas portuguesas, referiu, acrescentando que, além dos helicópteros, também estarão envolvidos no exercício os caças F-16. os C-295 e os P-3 Orion portugueses.
"Temos limitações óbvias, somos um país pequeno e não podemos querer estar ao nível de outras forças armadas maiores, mas no nosso nível, estamos preparados para destacar os nossos homens e fazer o que tem que ser feito", garantiu João Rosa.
O capitão João Silva, piloto de um dos doze helicópteros EH-101 Merlin da Força Aérea Portuguesa, defende que "é uma máquina muito versátil" em missões como "suporte humanitário, transporte de tropas especiais e apoio logístico.
A Esquadra 751, a que pertence, está vocacionada para "a busca e salvamento, evacuações aeromédicas nos arquipélagos dos Açores e da Madeira", mas por cerca de três semanas, vive "uma oportunidade única para um piloto".
Numa tarde em que o sol já queima, prepara-se para levar um destacamento de forças especiais e uma equipa médica para Tancos, onde se desenrolará o cenário que vão treinar.
"A cola que une tudo é um procedimento estandardizado, em que toda a gente sabe o que fazer", afirmou Pablo Romera, oficial da Agência de Defesa Europeia, que entregou a organização do exercício a Portugal.
Para João Rosa, é "um sinal de confiança" nas capacidades portuguesas para acolher tanta gente e tantos meios, que não se esgota nos militares.
"Temos os hotéis em Beja completamente esgotados durante um mês e os restaurantes nem fecham portas. O impacto económico local é muito interessante", afirmou.
Nos bastidores do exercício, outra tarefa é manter o moral de toda a gente durante o tempo em que dura o Hot Blade 2018, o que se consegue com convívio organizado, torneios desportivos, concertos e até uma banca de recordações em que se vendem camisolas (cinco cores à escolha), sacos e outros brindes para lembrar as semanas em que defenderam a sério o Alentejo e o Algarve do terror a fingir.
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