No relatório de 85 páginas, intitulado "Não é Normal: A Exploração Sexual, Assédio e Abuso em Escolas Secundárias", são documentados abusos conduzidos por professores e funcionários de escolas secundárias contra estudantes, naquele país.
A HRW relata casos de professores que, abusando da sua autoridade, se envolvem sexualmente com estudantes a troco de dinheiro, boas notas, comida ou bens, como telemóveis ou novas roupas.
"Apesar de tudo, o Senegal reconhece que a violência sexual é um problema sério", disse Elin Martinez, investigadora para os direitos das crianças na Human Rights Watch, acrescentando que, ainda assim, "muitos professores saem impunes à exploração sexual e assédio às suas estudantes, que toleram as ofensas sexuais para progredir na escola secundária".
Aquela organização não-governamental (ONG) considera que esse comportamento é "uma grave violação das obrigações éticas e profissionais dos professores" e assinala que quando as vítimas têm menos de 16 anos, constitui um crime para a lei senegalesa.
A organização, com sede em Nova Iorque, sublinha que o assédio e coação de estudantes para propósitos sexuais e abuso de poder e autoridade pelos professores no Senegal pode levar a uma pena de prisão até dez anos.
Para a realização do relatório, a ONG entrevistou mais de 160 raparigas e jovens mulheres e 60 pessoas, incluindo pais, especialistas da área da educação, psicólogos e membros de governos locais e nacionais em quatro regiões do Senegal.
A HRW considera que "tabus e estigmas sociais têm silenciado muitas raparigas e jovens mulheres afetadas pela prática", o que não permite saber a extensão da prevalência destes abusos sexuais.
De acordo com o relatório, algumas estudantes testemunharam a utilização de linguagem e gestos "inapropriados" por parte dos professores ao descrever os corpos e roupas das raparigas de uma maneira sexual.
O Governo do Senegal tem adotado medidas para combater a violência sexual e a discriminação com base no sexo em escolas.
De modo a garantir um ambiente seguro para a aprendizagem, algumas escolas senegalesas adotaram políticas de "tolerância zero" ou desenvolveram mecanismos para que as vítimas se sintam confortáveis quando reportam estas práticas.
A organização apela ao Governo senegalês para adotar medidas de resposta mais fortes para terminar os abusos, incluindo uma política nacional que "clarifique o que constituem comportamentos ilícitos ou inapropriados".
A HRW considerou ainda que o Senegal "não ensina adequadamente as crianças quanto à sexualidade, a saúde sexual e direitos reprodutivos", o que levou a ONG norte-americana a apelar também a que o Governo "adote uma educação sexual compreensiva" para o currículo escolar que siga as normas internacionais".
"O Governo quer que raparigas sucedam na educação (...), mas precisa de terminar a cultura de silêncio que cerca os abusos por professores, encorajar as raparigas a falar e mandar uma mensagem inequívoca a todos os membros ligados à educação que não irá tolerar a violência sexual contra estudantes", sublinhou Martinez.
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