A Hungria pediu à União Europeia (UE) para retirar a imunidade parlamentar da eurodeputada italiana Ilaria Salis, de 39 anos, que esteve detida durante 16 meses em Budapeste por alegados ataques a neonazis.

O The Guardian conta que, em fevereiro do ano passado, Salis foi detida após uma manifestação contra um comício neonazi. Suspeita de três tentativas de agressão e filiação a uma organização de extrema-esquerda, a eurodeputada negou todas as acusações.

Numa carta enviada ao seu advogado, a mulher, que foi levada algemada e com os pés atados, contou que a sua cela estava infestada de ratos e insetos, e afirmou que não tinha permissão para tomar banho ou receber cuidados médicos urgentes.

Em maio deste ano, foi-lhe decretada prisão domiciliária. No mês seguinte, ganhou assento no Parlamento da UE, enquanto representante dos Verdes e da Aliança de Esquerda, ficando livre das acusações.

Libertada da prisão domiciliária, Ilaris Salis voltou para Itália em junho.

No dia de ontem, representantes do partido Fidesz do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, disseram numa sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, que Budapeste já tinha solicitado, formalmente, a retirada da imunidade parlamentar de Salis.

Numa nota, Salis reagiu: "Como afirmei repetidamente, espero que o Parlamento escolha defender o Estado de Direito e os direitos humanos sem ceder à arrogância de uma 'democracia não liberal' com tendências autocráticas, que, pelas palavras dos seus próprios líderes, já me declarou culpada em várias ocasiões antes de qualquer veredito".

"Não é coincidência que o pedido ao Parlamento tenha ocorrido a 10 de outubro, um dia após a minha intervenção na sessão plenária sobre a presidência húngara, onde critiquei fortemente as ações de Orbán. O que está em jogo não é apenas o meu futuro pessoal, mas também, e acima de tudo, o futuro do que queremos para a Europa".

Na rede social X, o porta-voz do governo húngaro, Zoltán Kovács, acusou Salis de "agir como se fosse algum tipo de vítima", referindo que "não era apenas desconcertante, mas totalmente repugnante".

"Deixe-me esclarecer novamente: você não foi detida pelas suas 'opiniões políticas'. Você foi presa e levada a julgamento por casos de agressão armada a cidadãos húngaros inocentes", continuou.

O pedido dos parlamentares húngaros já foi comunicado à presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, e será anunciado em breve e encaminhado ao comité parlamentar responsável.

Antes de chegar à votação final, o processo pode levar até quatro meses.