Pouco passam das 15:00 de hoje, quando, na zona do Saramagal, Manuel Luís aparece no topo da escadaria que dá acesso ao restaurante. Do outro lado da estrada, um reacendimento aproxima-se perigosamente de uma habitação.

“Ninguém me atende, ninguém me atende”, grita lá atrás Maria de Deus, a outra funcionária do restaurante, depois de várias tentativas para chamar os bombeiros.

“Isto foi um reacendimento que veio de baixo. Tinha acabado de ver na televisão os avisos e decidi vir aqui fora”, conta Manuel.

Enquanto fala com a agência Lusa, passa por ali um jipe dos bombeiros de Monchique. Lá dentro, um dos operacionais fez sinal, dando a entender que vai chamar colegas e autotanques.

Enquanto espera pela ajuda, o funcionário relata as “dores de olhos” que tem sentido, devido ao fumo intenso e por andar todos os dias “para cá e para lá”: “Não tenho descansado nada”, acrescenta.

“Passei a noite no restaurante porque não dava para passar para baixo”, diz, referindo-se à estrada que liga a zona à sua habitação.

Manuel deslocou-se lá de manhã e deparou-se com “tudo queimado” à volta, mas a casa, até ao momento, “está salva”.

“Olhe o vento, olhe o vento”, chama a atenção.

Pouco depois chega um autotanque dos bombeiros de Cinfães e logo depois outro dos voluntários de Lamego. O imóvel acaba por ser salvo, ficando apenas chamuscada por fora.

Os operacionais seguem para outra ocorrência e o cenário vai-se repetindo ao longo da tarde um pouco por toda a serra de Monchique.

O incêndio rural deflagrou na sexta-feira à tarde em Monchique, no Algarve, e lavra também nos concelhos vizinhos de Portimão e Silves.

Segundo um balanço feito hoje de manhã, há 32 feridos, um dos quais em estado grave (uma idosa internada em Lisboa), e 181 pessoas mantêm-se deslocadas, depois da evacuação de várias localidades.

De acordo com o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais, as chamas já consumiram mais de 21.300 hectares. Em 2003, um grande incêndio destruiu cerca de 41 mil hectares nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.

Na terça-feira, ao quinto dia de incêndio, as operações passaram a ter coordenação nacional, na dependência direta do comandante nacional da Proteção Civil, depois de terem estado sob a gestão do comando distrital.