No encontro "Reerguer das cinzas o Pinhal do Rei", que discutiu na Marinha Grande o futuro da área ardida em 15 de outubro, o engenheiro florestal e dirigente da SPCF considerou o ICNF "uma invenção do último governo, na lógica do 'corte de gorduras'", o que provocou "a junção da água com o azeite".

"Juntou-se a produção florestal com a conservação da biodiversidade", um risco porque "há matérias que dizem respeito à conservação da biodiversidade que têm de ter o seu próprio organismo e há matérias relativas à produção florestal", que tem como objetivo a rendibilidade, "e devem ter um organismo próprio".

Para o responsável da SPCF, "esta solução mirabolante não funcionou" e, com o atual Governo "ainda menos", pela autonomização dos ministérios da Agricultura e do Ambiente.

"Temos uma instituição com uma dupla tutela. É como ter uma águia de duas cabeças e isso diz tudo", sublinhou.

No debate, Miguel Galante propôs um plano para a zona ardida na Mata Nacional de Leiria, que consumiu cerca de 66% do território do concelho da Marinha Grande, a que chamou "Pinhal do Rei 2.0".

O especialista defende a manutenção do pinhal bravo, "pelas condições ecológicas da mata, que não permitem grandes invenções", e pela "marca consagrada" da madeira de Leiria. E inclui um novo Plano de Gestão Florestal e mudança de paradigma: "Acredito que é possível reerguer o pinhal das cinzas, aprender a lição, fazer um novo plano, reforçar a capacidade técnica do Estado na gestão da floresta. Tem de haver um reforço, senão é uma oportunidade perdida".

Para o técnico, o ICNF deve "mudar o paradigma no que respeita à Marinha Grande", onde o trabalho futuro é "apenas a ponta do iceberg do que está pela frente a nível nacional".

A recuperação necessita de "calma, paciência e estratégia" porque "recuperar um ecossistema é uma tarefa complexa e complicada". "Há que dar tempo para a natureza fazer o seu trabalho", avisa.

No Pinhal de Leiria, Miguel Galante identifica uma situação particularmente crítica, na Ribeira de S. Pedro, e alerta para a necessidade de corte de todas as árvores numa faixa de 25 metros, junto às vias de comunicação, por questões de segurança.

A recuperação do coberto florestal deve ser a prioridade do plano a implementar, atendendo "às dimensões económica, ambiental e social".

O técnico da SPCF defende a instalação do Museu Nacional das Florestas, criado em 1999 mas nunca concretizado. "São 700 anos de história e este é o momento ideal para avançar. É preciso preservar a memória do Pinhal do Rei. Deve ser um museu vivo, como era o Pinhal do Rei".

Outras propostas passam pela criação do Centro de Interpretação do Pinhal do Rei e de uma rede de percursos pedestres e valorização de espaços de recreio e lazer no interior da floresta. Além disso, deveria avançar um viveiro florestal para fins pedagógicos e de apoio à arborização e o aproveitamento turístico das antigas casas dos guardas.

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