José António Rodrigues, de 60 anos, caminha pelos três hectares onde fazia produção biológica de laranjas, limões, limas, toranjas e clementinas. Ficou com tudo queimado, a única cor que se vê vem de limões caídos ao chão, cozidos pelo fogo.
"Era o meu ordenado. Vivia disto. Era como se agora chegasse um patrão e me despedisse. Era como se fosse para o desemprego", conta à Lusa o homem de 60 anos, que vê esta história dos incêndios na serra de Monchique repetir-se ao longo dos anos.
Já em 2003, andou em agosto a combater as chamas naquele laranjal, situado num vale, e em setembro a salvar a sua casa do fogo, no Alto, pequeno lugar junto a Alferce, no topo de uma encosta.
Se em 2003, conseguiu salvar a maioria dos seus pertences, agora o prejuízo é tanto que nem consegue fazer as contas certas do que perdeu.
Foi-se um 'bulldozer', alfaias agrícolas, sistema de rega, o laranjal e uma casa onde já viveu e que agora emprestava a uma mulher holandesa e filho, que o ajudava na sua propriedade.
Para explicar o porquê de não ter perdido tanto como agora, José António Rodrigues aponta culpas para a forma como a GNR impediu as pessoas de tentarem salvar os seus haveres.
"Eles impediram-me de regressar, quando tinha ido para o Alferce", protesta.
Só quando a situação parecia controlada conseguiu regressar ao Alto, à boleia de uma carrinha da junta de freguesia.
"Foi o que me valeu. Consegui apagar à volta da minha casa, e safar uma máquina de rasto e uma carrinha. Mas a casa [onde vivia a família holandesa] já foi tarde demais. Se tivesse vindo mais cedo, como o fogo entrou pelas portas e janelas, conseguia ter apagado com uns baldes de água", explica.
Os vizinhos, "que tinham ficado escondidos para não serem algemados e levados, conseguiram salvar as suas coisas", sublinha.
Quando pensa no futuro, a única solução que José António encontra é sair do país.
"Vou pensar mudar de país, porque aqui não dá. É a segunda vez. Tenho contactos em Inglaterra e na Alemanha e a ver se me ajudam a arranjar um trabalho e piro-me daqui para um dia não morrer queimado. Agora, investir aqui um cêntimo? Aqui, não invisto. Tenho uma filha a estudar e deixei de ter qualquer rendimento. Se for para outro país, arranjo trabalho e desenrasco-me", disse.
Já no final da conversa, José António Rodrigues, desalentado e vencido pelo fogo, deixa uma pergunta: "O que é que um gajo espera da república das bananas que nós aqui temos? Tenho que sair e não voltar".
[João Gaspar (texto) e Luís Forra (fotos), da agência Lusa]
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