“A análise das circunstâncias em que pereceram 48 cidadãos, nos incêndios de 14, 15 e 16 de outubro, permite evidenciar algumas características associadas a cada uma das fatalidades. Reconhece-se que este aspeto é essencial para que, no futuro, se possam conceber mecanismos de proteção pessoal e de envolvimento eficaz das populações nas ações de socorro”, diz o documento.
Segundo a comissão, cuja criação foi aprovada na Assembleia da República, as mortes ocorreram em quatro distritos (14 concelhos), “com uma enorme dispersão, o que distingue as fatalidades deste período das do incêndio da zona de Pedrógão Grande”, diz o documento.
O relatório também diz que estas fatalidades atingiram maioritariamente idosos, “com especial expressão para a classe etária dos 70 aos 79 anos”.
“Além disso, a maior parte das vítimas (85%) eram residentes permanentes nas respetivas zonas. Estas características configuram o predomínio, entre as vítimas, de residentes de duas tipologias. Uns tentaram salvar os seus bens e foram surpreendidos pelo fogo na proximidade das suas residências. Outros tinham problemas de saúde, com dificuldades de mobilidade, o que impediu uma evacuação atempada”, indicam os peritos.
As mortes ocorreram no final do dia 15 de outubro e às primeiras horas do dia 16 de outubro e a “maioria das vítimas não estava em fuga, o que revela a severidade do fogo e a velocidade da sua expansão, surpreendendo de forma violenta os diversos locais que foi visitando”.
Doze destas vítimas, indica o documento, morreram dentro de casas de habitação, “sendo que oito estariam a dormir, atendendo à hora da passagem do incêndio pelo local e aos relatos de familiares e habitantes locais, e quatro vítimas estariam acordadas, mas não conseguiram sair de casa”.
Estas vítimas tinham uma média de idades de 72 anos (64 no mínimo e 85 no máximo) e algumas teriam problemas de saúde, nomeadamente de mobilidade.
Nove vítimas (19%) morreram nas proximidades (a menos de cem metros) da casa de habitação, algumas a sair de casa e outras a tentar salvar bens junto à casa.
Mais de 50% das vítimas morreu a mais de 100 metros da sua casa de habitação habitual ou da sua segunda habitação em de entre elas, 46% (22 vítimas) faleceram nas imediações (a uma distância entre 100 e 5.000 metros) e cinco vítimas (10%) morreram a mais de cinco quilómetros da sua casa de habitação habitual situada em Coimbra, Sever do Vouga, Pinhel e Oliveira do Hospital.
“Relativamente à proporção entre géneros, confirmou-se que, das 48 vítimas mortais nos incêndios que ocorreram entre 15 e 16 de outubro de 2017, 31 eram do sexo masculino (65%) e 17 (35%) do sexo feminino, ou seja, com maior predominância de vítimas masculinas. Das 64 vítimas mortais do incêndio de Pedrógão, 34 (53%) eram do sexo masculino e 30 (47%) do sexo feminino, havendo uma razão entre géneros muito próxima”, descreve o relatório.
A comissão escreve que não será alheia a esta diferença o facto de muitos homens terem tomado a iniciativa de salvar bens, tendo sido atingidos pelo fogo.
O documento aponta ainda que, das 48 vítimas mortais, sete (15%) morreram dentro da viatura e pelo menos seis deles estariam em fuga, oito faleceram a menos de 50 metros do meio de transporte em que seguiam (carro, trator) e sete vieram a morrer a mais de 50 metros do meio de transporte (carro, motorizada e bicicleta).
“A análise de relatos e processos relativos às vítimas permitiu concluir que 27 das 48 vítimas (56%) estariam a fugir ao incêndio, tendo-se deslocado em viaturas de diversos tipos (automóveis, viaturas todo-o-terreno, microcarros, tratores, motorizadas e bicicleta). Concluiu-se ainda que 48% das vítimas estaria a tentar salvar bens diversos que iam desde animais de companhia, gado, viaturas, alfaias agrícolas, infraestruturas, material apícola até aos próprios documentos pessoais”, indica a comissão.
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