Em declarações aos jornalistas à margem de uma reunião de chefes de diplomacia da União Europeia (UE), Augusto Santos Silva disse desconhecer qualquer declaração do presidente da Junta da Galiza a responsabilizar Portugal pelos fogos que agora também afetam aquela região espanhola, mas frisou que de nada servem queixas recíprocas, até porque “os incêndios não conhecem fronteiras”.

“Vi declarações do presidente da junta da Galiza que me pareceram muito corretas. O que ele basicamente diz é que enfrenta três dificuldades que se adicionam umas às outras: em primeiro lugar, as condições atmosféricas; em segundo lugar, dizia ele, a atividade incendiária; e em terceiro lugar o facto de haver incêndios em Portugal que de algum modo têm também efeitos na Galiza. Não vi isso como uma queixa, muito menos uma responsabilização, uma acusação, e isso parece-me evidente: os incêndios não conhecem fronteiras, naturalmente”, afirmou.

Questionado sobre o alegado mal-estar das autoridades galegas com a falta de capacidade de Portugal para apagar os seus fogos, que "saltaram o (rio) Minho", o “número dois” do Governo defendeu então que a atual situação exige é unidade, e não de divisões.

“Não conheço essa declaração, portanto não posso comentar. Agora, nós vivemos, em particular na faixa ocidental na Península Ibérica, uma situação muito difícil, mesmo muito difícil, e as situações muito difíceis exigem é unidade e determinação, e não queixas recíprocas ou divisões”, concluiu.

Sobre a ativação do mecanismo europeu de proteção civil, Santos Silva confirmou que Portugal “aguarda ainda uma resposta, e uma resposta positiva”, mas compreende que “as circunstâncias são difíceis para todos”.

“Pedimos também apoio a vários países. A Itália já respondeu, disponibilizando dois meios aéreos. Espanha, França e Marrocos estão neste momento a enfrentar também incêndios preocupantes nos seus próprios países. Portanto, estamos a tentar mobilizar todos os meios e toda a solidariedade europeia necessária quando enfrentamentos calamidades desta dimensão”, disse.

O chefe de diplomacia admitiu que o atual mecanismo europeu tem de se dotar de meios que não tem atualmente, até porque “as alterações climáticas existem”, uma “consequência óbvia para todos” é que, cada vez mais regularmente, é necessário lidar com “fenómenos extremos, seja inundações, incêndios ou outras calamidades”.

“A UE tem que desenvolver também esta dimensão à escala europeia da proteção civil. Há propostas, trabalho que tem sido feito, mas o mecanismo de cooperação voluntária que hoje existe bilateralmente entre os Estados-membros não chega e o mecanismo europeu não está neste momento dotado de forma a responder à regularidade e à dimensão de calamidades que estamos a enfrentar. Portugal tem sido vítima este ano muito particularmente dessas calamidades, mas está longe de ser caso único entre os 28”, disse.

Pouco antes, a Comissão Europeia afirmou-se hoje disponível para voltar a ajudar Portugal a lidar com “fogos florestais devastadores”, mas admitiu ainda não terem sido enviados meios por falta de capacidade.

“Recebemos um pedido para envio de ajuda aérea para combater incêndios” das autoridades portuguesas, os países participantes foram notificados mas ainda não houve resposta, disse o porta-voz para a Ajuda Humanitária, Carlos Ruiz De Gordejuela.

Segundo outro porta-voz, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, já falou com o primeiro-ministro sobre os "fogos florestais devastadores", em Portugal.

As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram pelo menos 31 mortos e dezenas de feridos, além de terem obrigado a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas.

O primeiro-ministro, António Costa, anunciou que o Governo assinou um despacho de calamidade pública, abrangendo todos os distritos a norte do Tejo, para assegurar a mobilização de mais meios, principalmente a disponibilidade dos bombeiros no combate aos incêndios.

Portugal acionou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e o protocolo com Marrocos, relativos à utilização de meios aéreos.

Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, no verão, um fogo que alastrou a outros municípios e que provocou 64 mortos e mais de 250 feridos.

[Notícia atualizada às 15:43]