Em outubro, Alvadia perdeu 1.011 hectares para o fogo. Nesta aldeia da serra do Alvão, no concelho de Ribeira de Pena, junta-se a floresta a outras atividades económicas importantes, como a criação de gado maronês e de cabra bravia.

Com o inverno a chegar e as primeiras chuvas teme-se que possam ocorrer processos erosivos mais fortes.

Por isso, os alunos e professores do Departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) decidiram sair dos gabinetes e ir para o terreno ajudar a encontrar soluções.

“O que vamos fazer? Ações de demonstração, de prevenção de processos erosivos em Alvadia, em áreas que foram identificadas pelos seus gestores. A academia apenas se oferece, quer com conhecimento quer com mão-de-obra, para ir responder a solicitações que os seus habitantes, ou os representantes, nos colocam”, disse hoje à agência Lusa o professor e investigador da UTAD Domingos Lopes.

No terreno vão ser aplicadas técnicas várias de engenharia natural, como a hidrossementeira ou a criação de barreiras físicas a partir de material queimado, como árvores.

A hidrossementeira é uma técnica que mistura água e sementes e que, depois, é espalhada nos terrenos com o objetivo de acelerar o aparecimento de vegetação.

Em Alvadia, a intervenção vai ser feita em dois espaços diferentes.

“Vamos trabalhar numa área já com erosão de solo visível, mas contígua a um lameiro. Vamos tentar, em simultâneo, expandir a área de potencial para a silvo pastorícia e, ao mesmo tempo, demonstrar que é possível proteger a natureza e o solo”, explicou o investigador.

Num outro espaço florestal que ardeu e onde o risco de erosão é grande, que tem algum solo e uma inclinação acentuada, serão introduzidas sementes de espécies que fazem parte desta vegetação natural, desde os arbustos de pequeno porte, como os medronheiros, às árvores, como as bétulas.

Neste caso a ideia é ajudar a recuperar espécies de flora com dificuldades de regeneração no pós-fogo.

“Tudo misturado para conseguirmos ter ali extratos diferentes”, sublinhou.

A partir do material queimado, aquele que possui menos valor económico, serão ainda criadas barreiras físicas que, segundo Domingos Lopes, vão ajudar a “diminuir níveis de escorrência” e “a natureza a recuperar-se”.

Com esta iniciativa será criado, em Alvadia, uma espécie de laboratório vivo e de aprendizagem para os alunos da UTAD.

No incêndio de outubro ardeu 35% da área total deste baldio. Esta zona tinha ardido na sua totalidade em 2010.

Esta ação inclui-se no programa “O inverno está a chegar”, desencadeado por um movimento de alunos de engenharia florestal da UTAD.

O objetivo desta iniciativa passa por um envolvimento efetivo na discussão das florestas nacionais e no encontro de soluções, face aos grandes incêndios de 2017.

Os alunos vão recolher ideias e contributos para depois, em março, apresentarem um documento com 10 propostas e estratégias para tornar a floresta portuguesa mais acarinhada, segura e mais eficiente.

Frequentam o curso de engenharia florestal da UTAD, espalhados pelos 1.º e 2.º ciclos, cerca de 50 alunos. Para o primeiro ano da licenciatura entraram, para o ano letivo 2017/2018, apenas oito novos alunos.

[Notícia atualizada às 14:47]