Num projeto de voto submetido à Assembleia da República, o grupo parlamentar da Iniciativa Liberal (IL) reage ao “comunicado intimidatório” divulgado pela Embaixada da Rússia na quarta-feira passada, em que a representação russa afirmava que “nenhumas provocações ignóbeis” contra os cidadãos russos “ficarão sem resposta”, após Pedro Abrunhosa ter condenado a guerra na Ucrânia durante um concerto em Águeda.

Segundo os deputados da IL, “as declarações da Embaixada da Rússia não só configuram um atentado inaceitável à liberdade de expressão em Portugal, como constituem uma forma de intimidação que não tem enquadramento nem nas liberdades públicas portuguesas nem no decorrer das relações diplomáticas entre os países, especialmente quando se referem a um protesto pacífico que não pôs em causa a liberdade e a integridade de ninguém”.

“Os cidadãos portugueses terão sempre o direito a fazer os protestos políticos que entenderem, sejam eles sobre política interna ou externa, sem medo de represálias, intimidação ou ameaças veladas”, é referido.

O grupo parlamentar da IL propõe que a Assembleia da República manifeste “o seu mais veemente protesto contra o comunicado da Embaixada da Federação Russa de dia 20 de julho, que põe em causa a liberdade de expressão em Portugal e assume um inaceitável tom intimidatório contra um cidadão português, reafirmando o seu compromisso com a proteção dos direitos constitucionais dos portugueses”.

Durante um concerto em Águeda, em 02 de julho, disponível na íntegra na plataforma Youtube, Pedro Abrunhosa falou sobre a guerra na Ucrânia, antes de começar a cantar o tema “Talvez Foder”, no qual aborda questões como a guerra, a fome e o fascismo.

“Não podemos, nem vamos esquecer, que a Europa vive uma guerra. E a guerra mais estúpida de todas, uma guerra perfeitamente evitável, uma guerra de ódios, uma guerra em que famílias como as nossas todos os dias têm que fugir”, afirmou na altura.

O músico lembrou que também “há quem não fuja, e numa ilha da Ucrânia um marinheiro respondeu a um apelo de um barco russo dizendo: ‘Barco russo, go fuck yourself’, que é como quem diz ‘russian boat …’, que é como quem diz ‘Vladimir Putin, go fuck yourself'”.

“Este grito hoje tem que se ouvir em Moscovo e em Kiev”, disse.

A Embaixada da Federação Russa em Lisboa publicou na quarta-feira passada, no seu ‘site’, um “comentário”, motivado pelas “declarações inaceitáveis do cantor Pedro Abrunhosa”.

A representação russa dá conta que “tem recebido cartas dos compatriotas russos zangados que afirmam estar chocados pelo comportamento dum dos famosos cantores portugueses Pedro Abrunhosa”.

“Durante o concerto no festival AgitÁgueda 2022 ele se permitiu dizer várias coisas grosseiras e inaceitáveis sobre os cidadãos da Federação da Rússia, bem como os seus mais altos dirigentes. Além disso, Pedro Abrunhosa incentivava em êxtase os espetadores, entre os quais os russos que também pagaram os bilhetes, que repetissem o que estava a gritar, tendo no final expressado o desejo que as palavras dele fossem ouvidas em Moscovo”, relata a embaixada.

A embaixada russa, no comunicado, faz saber que as palavras do músico português, “indignas do homem de cultura que ainda por cima representa o país, que está a se manifestar abertamente contra qualquer tipo de ódio e discriminação, foram ouvidas” e que “as respetivas conclusões serão tiradas”.

“A Embaixada da Rússia continua a vigiar os interesses dos cidadãos russos residentes em Portugal, e nenhumas provocações ignóbeis contra eles ficarão sem resposta”, lê-se no comunicado.

Na sexta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros repudiou o “tom e conteúdo” do comunicado em questão e defendeu a liberdade de expressão como “inalienável”.

“Foi transmitida à embaixada da Federação Russa, através dos canais diplomáticos, o repúdio pelo tom e conteúdo do comunicado da embaixada relativo ao concerto do músico Pedro Abrunhosa”, adiantou à agência Lusa fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

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