Hugo Abreu e Dylan da Silva, à data dos factos ambos com 20 anos, morreram e outros nove instruendos sofreram lesões graves e tiveram de ser internados durante a denominada 'Prova Zero' (primeira prova do curso de Comandos) do 127.º curso de Comandos, que decorreu na região de Alcochete, distrito de Setúbal, a 4 de setembro de 2016.
O oficial - que é um dos nove arguidos da 'Operação Húbris', relacionada com o aparecimento das armas furtadas dos paióis de Tancos - afirmou hoje no julgamento do caso das mortes no curso de Comandos, que decorre em Lisboa, que, quando chegou ao Campo de Tiro de Alcochete, se dirigiu à tenda onde estava o corpo de Hugo Abreu, o qual tinha “arranhões e feridas em carne viva” nos joelhos e nos cotovelos.
Um dos advogados confrontou a testemunha com o facto de o relatório médico-legal indicar que aquelas lesões eram compatíveis com eventuais manobras de reanimação realizadas ao instruendo, antes de ter sido declarado o óbito pelas 21:45 de 04 de setembro de 2016.
Na resposta, o major Brazão ressalvou que não interpretou aquelas lesões “como agressões”, mas antes fruto de, nomeadamente, “de um intenso exercício físico, de rastejar, de ir para as silvas”, num contexto de instrução militar.
Outra das questões levantada pela maioria dos advogados dos 19 arguidos teve a ver com a diferença entre castigos/incentivos, e agressões.
“Uma coisa é agressão, outra coisa é incentivo. Há uma linha muito ténue entre agressão e uma prática menos boa, mas que em termos militares é aceite”, explicou o major Vasco Brazão, admitindo que poderá haver uma questão de “interpretação” por parte do Ministério Público de que um incentivo inserido na instrução militar possa ser entendido como agressão.
O oficial afirmou ainda que só no decorrer da investigação é que se apercebeu de que foi produzido um segundo guião da 'Prova Zero', diferente daquele que foi entregue aos instrutores, com “discrepâncias” entre ambos.
O major Brazão foi ainda questionado sobre se, nos depoimentos dos instruendos do 127.º curso de Comandos, ainda na fase de inquérito, sentiu que os mesmos foram sujeitos a alguma pressão, coação ou orientação para deporem num determinado sentido.
“É normal um militar não se sentir confortável a falar sobre um superior hierárquico. Mas não me apercebi. Da parte da PJM não me apercebi de nada”, respondeu o oficial.
A audição do major Vasco Brazão vai continuar em 07 de novembro, pelas 10:00.
Em junho do ano passado, o Ministério Público deduziu acusação contra os 19 militares do Exército, todos do Regimento de Comandos, considerando que os mesmos atuaram com "manifesto desprezo pelas consequências gravosas que provocaram" nos ofendidos.
Os oito oficiais, oito sargentos e três praças, todos militares do Exército do Regimento de Comandos, a maioria instrutores, estão acusados, ao todo, de 539 crimes de abuso de autoridade por ofensa à integridade física.
Comentários