“Num momento de aperto, como poderá ser agora o verão, colocar as outras especialidades hospitalares que deixaram de fazer urgência nas urgências poderia ser uma hipótese a curto prazo”, defendeu em entrevista à agência Lusa o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).

Na semana passada, a SPMI criticou em comunicado as propostas do Plano de Emergência da Saúde para a Urgência, considerando que estão repletas de “equívocos e erros”.

Uma das críticas apontadas é a criação de uma especialidade de urgência, que, segundo Luís Duarte Costa, não irá resolver o problema.

“A experiência dos últimos 10 anos ou mais com equipas dedicadas, inclusivamente num serviço central universitário que tinha uma equipa completamente autónoma, falhou redondamente por exaustão e ineficácia e, portanto, a experiência mostra-nos que isso não resolve [o problema], disse à Lusa.

Para o especialista, “nunca haverá uma especialidade única capaz de resolver todos os problemas” de saúde que surgem na urgência, ressalvando que a posição do SPMI “não é atacar por atacar” ou porque os internistas se sentem ameaçados.

“O que a SPMI e os internistas pretendem é melhorar os serviços de urgência e, de uma maneira global, todo o Serviço Nacional de Saúde e o internamento hospitalar”, vincou.

Os internistas alertam para a afluência excessiva dos doentes à urgência, também identificada no Plano de Emergência da Saúde, demonstrada pelos números que mostram que Portugal é o país da OCDE com maior número de episódios, com cerca de 70 por 100 habitantes por ano, seguido de Espanha com metade deste número.

Portugal está em último lugar no que se refere ao número de doentes que consegue uma consulta em três dias para uma situação aguda, o que o internista disse ser a principal causa para os casos não urgentes recorrerem à urgência.

Nesse sentido, reiterou que a especialidade de urgência “não vai resolver nada”, porque os médicos vão continuar “a ver doentes que não deviam lá estar”.

O excesso de afluência às urgências de situações não urgentes (mais de 40%) coloca em risco “a avaliação de doentes graves e emergentes e incapacidade de escoar os doentes com decisão clínica efetivada por falta de vagas no internamento hospitalar”.

“É a baixa eficiência dos serviços hospitalares que devem ser alterados para deixarmos de ter serviços em quintas e para termos um serviço aberto com equipas multidisciplinares e, eventualmente, por patologias”, defendeu.

Considerou ser necessário “mudar completamente” o modelo de organização para permitir que todos os doentes sejam vistos de maneira mais eficiente e remover os doentes sem gravidade.

“Claramente o que é preciso é melhorar o sistema de internamento, melhorar a eficiência, o modelo que está completamente esgotado”, disse.

Para o especialista, “todos os doentes complexos devem ficar, pelo menos, em cogestão” entre as várias especialidades e a medicina interna”.

“Este modelo que já existe em vários hospitais, nomeadamente em hospitais privados, é muito mais eficiente”, mas requer mais especialistas de medicina interna.

Admitiu contudo que “possa ser difícil” mudar o modelo de organização porque interfere com o 'status quo' de várias especialidades”, mas afirmou que a tutela pode contar com os internistas.

Sobre a proposta de criar centros de atendimento clínicos para retirar os doentes não urgentes dos hospitais, disse que falta explicar como será possível arranjar os médicos para os assegurar.

Recordou que as tentativas de reencaminhar estes doentes para consultas nos centros de saúde falharam, não por falta de vagas, mas porque os doentes não querem.

“Às vezes tem de ser forçado, para permitir que a urgência consiga tratar os doentes graves” que são colocados em risco devido ao excesso de afluência causada pelos menos graves.

Por outro lado, é preciso resolver os mais de 2.000 casos sociais e internamentos indevidos que impedem o funcionamento dos serviços hospitalares.