"A investigação está a provocar ondas de choque não só em África, mas também na comunidade internacional, porque mostra que ninguém está imune e que os delitos supostamente secretos não o são", adiantou, em declarações à agência Lusa, Mokgao Kupe.
A coordenadora regional da Transparência Internacional para o Sul de África disse, por outro lado, acreditar que "provavelmente a investigação terá um efeito dominó" que levará a "revelações explosivas" em outros países.
Mokgao Kupe classificou como "cruciais" as revelações da investigação 'Luanda Leaks' por tornarem "mais claro" o nível de corrupção que, durante duas décadas, "existiu nos setores público e privado em Angola".
"Também expõem instituições e países fora de Angola, que facilitaram ou viabilizaram a corrupção, um ângulo interessante que por vezes não consegue passar nas investigações jornalísticas", apontou.
Para a coordenadora da TI é, por isso, "fundamental que os facilitadores sejam responsabilizados".
"Paraísos fiscais e países que historicamente têm boas pontuações no Índice de Perceção da Corrupção devem assegurar que pessoas e empresas implicadas na corrupção no estrangeiro são responsabilizadas e que os bens roubados são devolvidos", disse.
Mokgao Kupe sublinhou igualmente o "importante papel" da comunicação social na recuperação de bens roubados, lembrando que muitas vezes os governos reagem apenas quando enfrentam o escrutínio dos media.
"Os relatos de corrupção alarmam os investidores e afetam o investimento direto estrangeiro quando os países não tomam medidas contra a corrupção. Reportagens sobre os efeitos da corrupção nos mais pobres sensibilizam o público e forçam os Governos a responsabilizarem-se por esses ativos", apontou.
A coordenadora da TI para o sul de África elogiou a ação do Governo de Angola na luta contra a corrupção, mostrando-se convencida que mais pessoas serão alvo de investigações no país.
"É notável que o Governo tenha tomado medidas tão rápidas contra os suspeitos de corrupção, incluindo o antigo chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar, além da Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos [filhos do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos]", considerou.
Mokgao Kupe recordou que qualquer caso de corrupção "envolve uma multiplicidade de indivíduos e instituições", considerando, por isso, "altamente provável" que, com o avançar das investigações e com o aumento da cobertura mediática, "outros indivíduos venham a ser investigados".
A responsável da TI apontou, por outro lado, o papel de Portugal e da Europa na responsabilização das instituições que facilitaram "o saque" de ativos angolanos.
"É também importante que as instituições financeiras, contabilistas, profissionais do ramo imobiliário e advogados, que muitas vezes estão fortemente envolvidos em transações envolvendo dinheiro sujo, sejam educados sobre práticas éticas", sustentou.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou no domingo mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de 'Luanda Leaks', que detalham esquemas financeiros da empresária angolana Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
As alegações da investigação foram consideradas "completamente infundadas" por Isabel dos Santos, que se afirma vítima de um ataque político e prometeu "lutar nos tribunais internacionais" para "repor a verdade".
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