“A Comissão Europeia deve demonstrar clareza e não tolerar a extrema-direita para evitar situações que estão a ser provocadas por Viktor Orban, na Hungria, ou pelos conservadores da Polónia”, disse à Lusa o autor do livro “Postcapitalism: A Guide to Our Future”.

Paulo Mason vai participar na Conferência Ulisses 2018 que tem como lema “Democracia Europeia” e que se vai realizar durante o fim de semana no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Segundo o autor do livro “Postcapitalism” a crise económica – que ainda afeta países como Portugal e a Grécia - atingiu também “aqueles que podem ser apontados como neoliberais e defensores de políticas de centro ligados ao mercado livre”, mas neste momento abre caminho a situações de intolerância, sobretudo no Leste do continente.

“O que está a acontecer agora é que a crise económica está transformada em crise geopolítica e numa crise moral. Atualmente, a maior ameaça são as políticas autoritárias de direita e que negam os direitos humanos universais. O que une Donald Trump, o líder húngaro, Viktor Orban e a extrema-direita na Grécia é a rejeição de direitos iguais para todos os cidadãos”, alerta o investigador.

“Esta situação altera a dinâmica da luta e é preciso estabelecer prioridades sobre o inimigo. Para mim a grande ameaça na Europa é o aumento do populismo e da xenofobia”, sublinha.

Para Mason, em Portugal e na Grécia ainda há fortes estruturas e movimentos que permitem às pessoas resistirem a situações de crise económica e que um dos motivos que evitou o “colapso” dos dois países - quando se verificou o impacto da austeridade - foi a existência de fortes organizações de caráter social, redes familiares e estruturas locais.

No entanto, o autor e jornalista refere que o “grande problema” reside na Europa de Leste onde a sociedade tradicional foi destruída pelos regimes comunistas e onde todas as formas de solidariedade social também foram aniquiladas.

“Pensávamos que o antissemitismo tinha acabado e, no entanto, está a crescer em zonas da Europa onde não existem regras de solidariedade social”, avisa Paul Mason.

Por isso, afirma, são necessárias políticas internacionais e de progresso, mas também que ajudem a “desativar – como se fosse uma bomba – o racismo, a xenofobia e a ignorância que são situações explosivas”.

“Temos de ter presente aquilo que a década de 1930 nos permite aprender: na Alemanha, a elite e a classe dirigente decidiram posicionar-se contra as políticas de esquerda aliando-se à extrema-direita. Foi o que aconteceu. Agora, temos de perguntar aos liberais e aos conservadores quem são para eles o principal inimigo”, refere Mason.

“Ou eles percebem que a xenofobia e o racismo e o populismo são o principal inimigo, ou, caso contrário, vão cometer o mesmo erro do passado”, frisa.

Paul Mason encontra-se a preparar um novo livro (“Clear, Bright Future”), que vai ser publicado no próximo ano e que defende o humanismo como “arma” num mundo que está a ser cada vez mais controlado por algoritmos, “tal como os algoritmos do Facebook que permitem a difusão de notícias falsas ou que deixam os supermercados ou os aeroportos controlarem os comportamentos dos cidadãos”.

“O que eu penso que vai acontecer no século XXI é que as corporações e os Estados vão incrementar o poder que exercem sobre os seres humanos através do uso de algoritmos e de sistemas de inteligência artificial e, por isso, precisamos de perceber quem são as pessoas que estamos a tentar defender”, disse Paul Mason.