De acordo com a missiva enviada pelo embaixador do Iraque na Organização das Nações Unidas (ONU), obtida pela France-Presse, a operação norte-americana em território iraquiano, em 04 de janeiro, que matou Qassem Soleimani e o tenente iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis (“número dois” da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque Hachd al-Chaab), “representa uma agressão ao povo e ao Governo do Iraque”.

A “flagrante violação das condições ligadas à presença das forças norte-americanas no Iraque” pode levar a uma “escalada perigosa” das tensões e “uma guerra devastadora no Iraque, na região [do Médio Oriente] e no mundo”, prossegue a carta.

O Iraque pede, por isso, ao Conselho de Segurança da ONU que “cumpra as suas responsabilidades e garanta que aqueles que cometeram essas violações, que violam não apenas os direitos humanos, mas também o direito internacional”, sejam “responsabilizados”.

No documento de três páginas, o embaixador do Iraque na ONU não pede explicitamente uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre este assunto, mas, apesar de o país não ser membro do Conselho, pode solicitar uma reunião através de um dos 15 países que compõem o órgão.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas é atualmente composta por cinco membros permanentes — Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França — e por 10 membros temporários — Bélgica, República Dominicana, Estónia, Alemanha, Indonésia, Nigéria, São Vicente e Granadinas, África do Sul, Tunísia e Vietname.

Esta missiva segue o anúncio, no domingo, do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraquiano de uma queixa à ONU.

Também na segunda-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que as tensões diplomáticas estão “ao nível mais elevado” do século.

“Parem a escalada [da tensão]. Exercitem ao máximo a contenção. Recomecem o diálogo. Renovem a cooperação internacional”, apelou Guterres.

A situação na região do Médio Oriente está particularmente tensa desde a morte do general Qassem Soleimani, ordenada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O ataque ocorreu três dias depois de um ataque inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e só terminou quando Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.

O Irão prometeu vingança e anunciou no domingo que deixará de respeitar os limites impostos pelo tratado nuclear assinado em 2015 com os cinco países com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas — Rússia, França, Reino Unido, China e EUA — mais a Alemanha, e que visava restringir a capacidade iraniana de desenvolvimento de armas nucleares. Os Estados Unidos abandonaram o acordo em maio de 2018.