As questões de segurança e o conflito com os palestinianos preocupam os israelitas e nas últimas semanas Netanyahu reforçou os ataques ao inimigo Irão, fez uma rara visita à Cisjordânia ocupada e prometeu a anexação parcial deste território, tendo ainda realizado deslocações a Londres e à Rússia, fortalecendo a sua imagem internacional.
“Bibi”, como é conhecido, é também o primeiro chefe de Governo em funções a ser alvo de acusações criminais — de “corrupção”, “fraude”, “desvio de fundos” e “abuso de confiança” – em vários processos, mas apenas terá de demitir-se se for considerado culpado.
A lei israelita exige uma audiência prévia antes da apresentação formal das acusações, que está marcada para outubro, e aliados políticos de Netanyahu, líder do Likud (direita), esperam conseguir fazer aprovar, após as eleições, uma lei que lhe dê imunidade, tornando mais importante uma vitória.
O seu principal rival nestas legislativas é o general Benny Gantz, à frente da coligação centrista Azul e Branco (as cores da bandeira do Estado judaico), que prometeu “terminar com a corrupção” dos anos Netanyahu.
As sondagens colocam o Likud e o Azul e Branco lado a lado, como aconteceu nas legislativas de abril, quando obtiveram o mesmo número de assentos parlamentares cada, 35 (em 120).
À impossibilidade de Netanyahu formar uma coligação governamental, o Likud e aliados responderam com uma dissolução do parlamento e novas eleições.
Depois de Avigdor Lieberman, líder do partido Israel Beiteinu, cujo apoio poderá ser crucial para uma coligação de governo, sugerir que o Likud deveria mudar Netanyahu se este falhar novamente a constituição de uma aliança para o executivo, os candidatos do partido no poder assinaram no início de agosto uma “declaração de lealdade” a “Bibi”.
Na última semana de campanha eleitoral, o primeiro-ministro israelita acusou o Irão de ter ocultado “uma instalação secreta” onde desenvolvia testes com armas nucleares e que teria destruído depois de ter percebido que o Estado hebreu o tinha descoberto. Netanyahu insistiu com a comunidade internacional para manter pressão sobre Teerão.
No final de agosto, Israel tinha acusado a República Islâmica de procurar fabricar, através do seu aliado o movimento xiita libanês Hezbollah, mísseis de precisão que poderiam causar “enormes perdas humanas” no seu território.
Na terça-feira, Netanyahu prometeu anexar uma parte da Cisjordânia se for reeleito e suscitou críticas dos palestinianos, das Nações Unidas, da União Europeia e de vários países árabes.
A ONU considerou que a decisão seria devastadora para a “relançar as negociações” entre Israel e a Palestina e a UE disse que colocaria “em causa as perspetivas de uma paz durável” na região, enquanto Riade qualificou a declaração de “perigosa escalada”.
O líder do Likud disse que caso vencesse o escrutínio aplicaria imediatamente a “soberania de Israel” ao vale do Jordão e ao norte do mar Morto, adiantando tencionar anexar todos os colonatos na Cisjordânia após a divulgação do plano norte-americano para resolver o conflito israelo-palestiniano, que deve ocorrer pouco depois das eleições.
Nas vésperas das anteriores legislativas, o Presidente norte-americano, Donald Trump, reconheceu, em Washington e na presença de Netanyahu, a soberania de Israel sobre a parte dos montes Golã tomados à Síria em 1967 e anexada em 1981, numa decisão não reconhecida pela comunidade internacional.
Trump já tinha contrariado o consenso internacional ao reconhecer em dezembro de 2017 como capital de Israel Jerusalém, cuja parte oriental foi ocupada e depois anexada e que é reivindicada pelos palestinianos como capital de um eventual Estado da Palestina.
Quando se deslocou a Londres a menos de duas semanas das novas eleições, “Bibi” tencionava discutir com o homólogo, Boris Johnson, a situação no Médio Oriente e com o secretário da Defesa norte-americano, Mark Esper, também em visita à capital britânica, as “necessidades de Israel em termos de segurança”, segundo o seu gabinete.
Na quinta-feira deslocou-se à Rússia para um encontro com o presidente Vladimir Putin, à semelhança do que fez a cinco dias das legislativas de abril, dando destaque às suas relações privilegiadas com os líderes mundiais.
Na última semana, Netanyahu tentou ainda sem sucesso fazer aprovar legislação permitindo a presença de câmaras nas assembleias de voto, para, segundo ele, evitar “fraudes” e garantir a “transparência”.
Para os adversários, tratou-se de uma tentativa de intimidação dos eleitores hostis à sua candidatura, nomeadamente a população árabe israelita, ou mesmo de uma estratégia para pôr em causa um eventual resultado desfavorável.
Mordechai Kremnitzer, especialista em direito constitucional, escreveu no diário Haaretz que o projeto de lei significava apontar uma “arma à cabeça da democracia israelita”.
“Ele (Netanyahu) bate-se pela sua sobrevivência, para não enfrentar a justiça. É uma guerra pessoal”, considerou Gideon Rahat, professor de ciências políticas na Universidade Hebraica de Jerusalém, citado pela agência France Press.
O caso das câmaras “faz parte da sua tentativa de mobilizar o seu eleitorado, argumentando que eles — os árabes, a esquerda, as elites — estão a tentar roubar a eleição a nós, o povo”, comentou.
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