A região de Kumamoto, na ilha de Kyushu, foi atingida nas últimas 48 horas por uma série de terramotos e réplicas que provocaram uma gigantesca avalanche de lama e pedras que soterrou casas e cortou uma autoestrada. "O balanço total de vítimas subiu para 32 mortos", declarou à AFP Yumika Kami, porta-voz do município de Kumamoto. Entre eles, dois estudantes que foram soterrados com uma dezena de outros jovens numa residência universitária. Cerca de mil pessoas ficaram feridas, 184 delas com gravidade, segundo as autoridades locais. "A prioridade é salvar vidas. Devemos agir rapidamente", declarou o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, que cancelou a sua visita à região e convocou uma reunião de crise. "Está previsto que o tempo piore (...) havendo o risco de novos deslizamentos e outros desastres", advertiu.

O governo enviou 20.000 homens para ajudar nos trabalhos de resgate. A agência meteorológica japonesa, que prevê fortes chuvas durante o fim de semana, alertou para a possibilidade de novos deslizamentos de terra num solo enfraquecido pelos tremores. A localidade de Misato aconselhou cerca de 10.000 habitantes a deixar a zona por precaução, segundo a rede de televisão NHK.

Mais de 123 abalos secundários e uma população com medo

O terramoto deste sábado, de 7 graus de magnitude segundo o Instituto de Geofísica americano (USGS), foi registado à 1h25 local (16h25 de Lisboa), provocando um alerta de tsunami na costa oeste de Kyushu, que logo foi cancelado. A agência meteorológica japonesa avaliou o sismo em 7,3 graus e indicou que o terramoto de quinta-feira foi um "precursor".

Na quinta-feira, um terramoto de 6,5 graus de magnitude atingiu a ilha e provocou nove mortos e 900 feridos, dos quais 50 graves. Desde então, mais de 100 abalos secundários foram registados na região. "Saí da minha casa. Não podia ficar lá por causa dos sismos repetidos", disse Hisako Ogata, de 61 anos, que foi levada para um parque perto da sua casa em Kumamoto juntamente com outras 50 pessoas. "Estava com tanto medo", desabafou. "O último terramoto foi tão forte, ou até mais forte do que o terramoto original", declarou Shotaro Sakamoto, do município de Kumamoto.

Antes do novo terramoto, os habitantes da pequena cidade japonesa de Mashiki já se preparavam para voltar a passar a noite ao relento e faziam fila para receber água potável. "A casa tremeu", contou à AFP Noboyuki Morita, um morador de 67 anos da cidade de Mashiki. "Estávamos a ver televisão quando, de repente, sentimos tremores muito fortes. Fiquei muito surpreendido, nunca tinha visto um tremor assim na minha vida", completou. Morita e a mulher passaram a noite num carro. Não podiam voltar para casa, depois de o telhado ter desabado e os móveis saído do lugar.

O relógio ficou parado às 21h26 (129h26 de Lisboa), horário do primeiro abalo. "Só consegui sair de casa depois de cinco réplicas. Foram tão fortes que ficava com medo de me mexer", contou um vendedor à televisão. Em sua casa, tudo estava de pernas para o ar, com estantes, mesas e diversos objetos atirados ao chão.

No total, "foram sentidos 123 tremores secundários", disse o sismologista Gen Aoki, da Agência Japonesa de Meteorologia. Dezenas de casas, muitas delas velhas e de madeira, ficaram total, ou parcialmente, destruídas. Cerca de 44.000 pessoas tiveram de refugiar-se em centros de acolhimento, onde receberam arroz e água potável. Uma ponte de 200 metros desabou, um santuário milenar foi destruído e as estradas ficaram marcadas por fissuras. Além disso, pelo menos 14.000 lares ficaram sem eletricidade, e também houve cortes no abastecimento de gás e água. A companhia que alimenta a região, Kyushu Electric Power, afirmou que não foi detectada nenhuma anomalia na central nuclear de Sendai, onde se encontram os dois únicos reatores em serviço no Japão. As demais instalações nucleares da região, ou seja, as de Ehime e Genkai, não foram afetadas, segundo as companhias operadoras.

O Japão, localizado no encontro de quatro placas tectónicas, sofre todos os anos mais de 20% dos terramotos mais fortes registados no planeta.