“Consideramos que essa não é a questão agora - a demissão do Governo -, mas se o Governo do PS enveredar por essa política de retrocesso, que se manifestou nos PEC [Pacto de Estabilidade e Crescimento] e no pacto de agressão, nós não acompanharemos o Partido Socialista. Por uma questão de coerência. Aliás, se há coisa que o PS tem como garantia, e já o afirmou, é de que da parte do PCP sempre houve grande coerência”, afirmou Jerónimo de Sousa em entrevista ao Diário de Notícias.

“Olhamos para o documento, estudamo-lo, refletimos e dizemos se estamos de acordo ou se estamos em desacordo. E nunca por nunca nós abdicamos da palavra dada. E é essa a nossa disposição em relação ao orçamento suplementar e em relação ao Orçamento do Estado para 2021, que vamos começar a apreciar em junho ou julho”, assinalou.

O líder do PCP garantiu também que o partido estará “sempre do lado que for positivo, construtivo, numa posição de proposta, de acrescento”, e não abdicará do “posicionamento crítico na defesa de quem trabalha ou trabalhou”.

“Está nas mãos do Partido Socialista impedir que o Governo caia”, salientou.

Na entrevista, publicada hoje, o secretário-geral do PCP voltou a insurgir-se contra a austeridade como forma de mitigar a crise económica decorrente da pandemia de covid-19, afirmando que “o que estes quatro anos demonstraram é que quanto mais valorizados forem os trabalhadores, o seu trabalho, os seus direitos, melhor" para a economia nacional.

“A vida provou-o, não sou eu que estou a inventar”, reforçou.

Apesar de assinalar que “o PCP reage sempre em função dos conteúdos e documentos concretos”, Jerónimo salientou que, “no que for bom para o povo, para os trabalhadores, pode o PS estar convicto de que pode contar com o PCP”.

“Naquilo que acharmos que é negativo, seja no plano nacional, seja no plano da UE [União Europeia], nós não acompanharemos”, garantiu.

Em relação ao confinamento imposto pela pandemia de covid-19, e ao dever de recolhimento dos idosos por serem um grupo de risco, Jerónimo considerou que “se estabeleceu uma pressão tremenda e inaceitável, com base na certidão de nascimento” e defendeu que “não pode haver um critério, uma imposição sobre os mais velhos, com consequências que ainda estão por avaliar”.

A nível geral, o comunista entende que “havia medidas sanitárias que era preciso, de facto, pôr em prática, mas muitas vezes as recomendações transformaram-se em imposições sem nenhuma base legal e isso tem reflexos na atividade política, que chegou ao ponto de ser olhada de mau modo”.

Questionado se houve abusos na limitação de alguns direitos, liberdades e garantias durante o estado de emergência, Jerónimo de Sousa respondeu afirmativamente, e salientou que essa situação afetou particularmente os trabalhadores, apontando que “o estado de emergência serviu, não para salvaguardar a saúde dos portugueses, mas para transformar a dificuldade numa oportunidade para muitos”.

Por isso, defendeu que o ‘lay-off’ simplificado “não pode ser um processo que continue meses sem fim”, justificando que “uma situação excecional não pode transformar-se num ato banal”.

Ao Diário de Notícias, Jerónimo de Sousa falou também sobre a sua sucessão, e insistiu que “a questão do secretário-geral não vai ser, de facto, um problema do XXI Congresso, porque neste partido não há candidatos a coisa nenhuma e, depois, porque na opção que se escolher, seja daqui a uns meses seja daqui a uns anos, sempre prevalece a ideia de saber o que melhor serve o partido”.

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