O antigo operário metalúrgico, com 72 anos, completa agora 15 como secretário-geral do PCP, depois de ter sido eleito sucessor de Carlos Carvalhas no 17.º Congresso Nacional do partido político mais antigo de Portugal (98 anos), em 27 e 28 de novembro de 2004, em Almada.

Uma das marcas de água dos seus quatro mandatos consecutivos foi a declaração da noite eleitoral de outubro de 2015, quando disse: "com este quadro, o PS tem condições para formar Governo, mas têm de perguntar ao PS”.

Seguiu-se um mês de negociações com o socialista António Costa para estabelecer a inédita e histórica posição bilateral conjunta, à semelhança de BE e “Os Verdes”, que constituiu a denominada “geringonça” e durou toda uma legislatura de quatro anos, embora sublinhando sempre diferenças face ao partido "rosa".

Porém, em termos eleitorais, as últimas legislativas ditaram o pior resultado de sempre em percentagem e votos para a Coligação Democrática Unitária (CDU), recuando para os mesmos 12 deputados de 2002.

O PCP, com Carvalhas na liderança, passou dos 8,8% de votos (17 mandatos no parlamento) em 1991 para 6,94% (12) nas legislativas de 2002. Com Jerónimo no comando, já depois de candidato à Presidência da República (1996) - quando desistiu em favor do socialista Jorge Sampaio -, a CDU cresceu para 7,14% (14 deputados) em 2005, 7,86% (15) em 2009, 7,9% (16) em 2011 e 8,25% (17) em 2015.

O economista Carlos Carvalhas (1992-2004) sucedera ao intelectual e mítico Álvaro Cunhal (1961-1992) e Jerónimo de Sousa veio fazer questão de recusar título de doutor quando alguém lho atribuiu, pretendendo ser "só mais um camarada" entre a classe operária.

Os constantes adágios populares aproximam-no das populações, além do respeito e afabilidade de que goza por parte de muitos de outras "cores" partidárias. Os membros do partido elogiam-lhe a capacidade política e de comunicação, mas também o sentido de humor, sempre com uma "estória" ou piada na ponta da língua.

Antigo afinador de máquinas numa empresa metalúrgica e dirigente sindical, Jerónimo Carvalho de Sousa nasceu em 13 de abril de 1947, criado pela mãe biológica, "a velha Olímpia" Jorge Carvalho, e seu marido, António de Sousa. Nasceu, cresceu e continua a viver na cintura industrial norte de Lisboa, à beira Tejo, em Pirescôxe, Santa Iria de Azóia, Loures.

Batizado pela Igreja Católica e com o quarto ano do antigo curso industrial, concluído ao mesmo tempo que trabalhava (desde os 14 anos de idade), casou-se aos 19 anos com Ovídia e é pai de duas filhas, Marília e Lina. Tem dois netos adolescentes, Rui Pedro e Rita, e um mais recente "rebento", Gabriel, após ser um dos miúdos mais assíduos nas passagens da carrinha-biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian.

O futuro líder comunista ajudou a fundar e dirigir Associação Cultural e Desportiva local e ainda hoje exerce o seu direito de voto, sob numerosos lentes e flashes, no Grupo Desportivo da terra, aproveitando em muitos dias para jogar às cartas e conviver com velhos amigos dos tempos de teatro e dança na coletividade 1.º de Agosto de Santa Iria.

Entre 1969 e 1971, o secretário-geral do PCP, benfiquista e fã da banda inglesa The Beatles, cumpriu o serviço militar, com uma incursão ao difícil cenário da guerra colonial na Guiné-Bissau.

Logo em 1975, um ano depois de ter aderido ao PCP, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte e continua a ser o único deputado sobrevivente daqueles tempos na Assembleia da República. Jerónimo foi eleito para o Comité Central do PCP no IX Congresso Nacional (1979) e integrou a Comissão Política comunista desde o XIV Congresso (1992).

Novamente candidato à Presidência da República em 2006, em diversas entrevistas, o secretário-geral do PCP, apesar das dúvidas colocadas por alguns órgãos de comunicação social, especialmente na campanha das eleições legislativas de 2015, quando questionaram a sua forma física, sempre mostrou "disponibilidade grande" para continuar em funções, mas admitiu à agência Lusa, no início do ano, que poderá vir a abdicar da liderança do partido no 21.º Congresso Nacional, marcado para 27, 28 e 29 de novembro de 2020.

Jerónimo continua com o hábito de fumar e para o auxiliar em alguns dos, por vezes, longos discursos, recorre ao licor português Brandymel para ajudar a ginasticar as cordas vocais, que o traíram e obrigaram a abandonar um debate televisivo, em 2005.

"Até hoje, e já lá vão 14 anos, se há coisa que levo comigo são as grandes manifestações de solidariedade em momentos difíceis que o coletivo partidário tem tido para com o secretário-geral, nos bons e maus momentos. Aceitei esta responsabilidade que os meus camaradas entenderam atribuir-me, procurando estar à altura, o que não é fácil, mas percebi que nestas tarefas cada um de nós tem de perceber e escolher o momento para alterar as suas responsabilidades", disse na entrevista de fevereiro de 2019.