"Não faço juízos de valor. O BE corre na sua bicicleta. Não temos nenhuma preocupação em relação ao BE", disse Jerónimo de Sousa, rosto mais visível da aliança entre comunistas, "Os Verdes" (PEV), Associação Intervenção Democrática e cidadãos independentes, inquirido sobre alguma troca de acusações com bloquistas nas últimas semanas.

Até agora, em todo o território português, o BE, fundado em 1999, somente dirigiu a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, através de Ana Cristina Ribeiro, mas perdeu aquele município para o PS em 2013, quando a agora recandidata atingiu o limite de mandatos. "Anita", como é carinhosamente conhecida, foi eleita desde 1997, ainda pela CDU, e, a partir de 2001, pelo BE.

Jerónimo de Sousa preferiu destacar o papel de PCP e PEV no parlamento, influenciando políticas que o PS "nunca adotou ou adotaria", como tem feito nas muitas "arruadas" e comícios, quando desafiado a comentar se os bons resultados económicos recentes podem levar os socialistas "a levantar voo" rumo à maioria absoluta nas legislativas, já que deu uma mera ‘bicicleta' autárquica ao BE.

"De avião...!? Não sei se o PS conseguirá essa onda, um voo tão célere, em termos de resultados eleitorais...", prognosticou, reconhecendo o partido do atual primeiro-ministro, António Costa, como "o adversário" nas regiões de maior implantação da CDU - "cintura da ferrugem", de tradição operária, da Grande Lisboa e da península de Setúbal e o mais rural Alentejo, zonas bastante batidas por estes dias pela caravana CDU.

Jerónimo de Sousa, de 70 anos e prestes a comemorar 13 à frente do PCP, congratulou-se com o "desenvolvimento de apoios, manifestações de simpatia e crescendo na participação nas iniciativas", desde a pré-campanha eleitoral, para se mostrar "confiante de que é possível alcançar aquele objetivo de manter e reforçar posições da CDU".

"O nosso objetivo é crescer e avançar, é evidente", assumiu, mas "sempre com uma cautela muito grande" porque a "onda de simpatia" ou o "bom ambiente" não são sinónimo de "resultado eleitoral", além da incógnita em que consiste o grau de abstenção nos diversos sufrágios de domingo.

Sem querer quantificar, em percentagem ou mandatos, o secretário-geral comunista admitiu que "há reais possibilidades, de facto, de crescimento da CDU".

"Sim, é evidente. (35 autarquias é melhor do que as atuais 34), embora, como sabe, não houve nunca eleições autárquicas em que não se ganhasse e perdesse câmaras. Por meia dúzia de votos se ganha, por meia dúzia se perde uma câmara", relativizou.

Há quatro anos, a CDU alcançou também 11% dos votos, conquistando cerca de 200 freguesias e 213 mandatos locais. Jerónimo de Sousa tem vindo a repetir o apelo ao voto no "trabalho, honestidade e competência" de quem "tem provas dadas e honra a palavra dada" porque considera ser "um voto diferente, que serve quem o recebe, mas também quem o dá".

Numa campanha em que o plano nacional esteve invariavelmente presente, o líder comunista vem destacando os "avanços" nos "rendimentos e direitos roubados pelo Governo PSD/CDS", conseguidos na negociação constante com o Governo socialista, sobretudo na antecâmara da elaboração de mais um Orçamento do Estado, o terceiro desta inédita legislatura com posições conjuntas assinadas entre PS e os partidos à sua esquerda.