Nascido em Benfica, em 1944, o neurocirurgião é irmão do escritor António Lobo Antunes e pai da atriz Paula Lobo Antunes, uma das suas quatro filhas. Vítima de doença prolongada aos 72 anos, deixa também oito netos.

João Lobo Antunes, licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa com uma média final de 19,47 valores, foi presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e foi o primeiro médico da história a implantar um olho eletrónico num cego, um implante que desde então já foi feito em 15 invisuais, permitindo-lhes ver algumas formas e distinguir certas cores.

Ao longo da sua carreira, foi vice-Presidente para a Europa do World Federation of Neurosurgical Society (1990), Presidente da Sociedade Europeia de Neurocirurgia (1999-2003), do Conselho Superior de Ciência, Tecnologia e Inovação (2003-2006), da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa e da Academia Portuguesa de Medicina e Professor Convidado da Universidade de Pequim.

A nível político, foi mandatário nacional das candidaturas presidenciais de Jorge Sampaio, em 1996 e de Cavaco Silva em 2006. Com Cavaco Silva, Lobo Antunes fez depois parte do Conselho de Estado.

João Lobo Antunes foi condecorado nas cerimónias do 25 de Abril deste ano pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, em Lisboa, em paralelo com António Arnaut. "Não há verdadeira democracia, como não há verdadeira liberdade, sem a efetivação dos direitos económicos, sociais e culturais. Um deles, cimeiro, é o direito à saúde", afirmou, na ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa .

O chefe de Estado explicou que as distinções são o "reconhecimento de carreiras dedicadas ao serviço da liberdade, democracia e Constituição no domínio da saúde". "[Lobo Antunes] Tem sua pesquisa, ensino, prática, magistério pessoal e institucional ligados ao domínio da saúde, contribuindo de forma relevante e com excelência também para a efetivação deste direito fundamental", segundo o Presidente da República.

João Lobo Antunes afirmou então ter como "contributo para a construção da liberdade neste país, essencialmente, ser um homem livre, mas servo do serviço à nação numa área tão importante e tão frágil como a da saúde". "O que me enche mais de orgulho foi ter tratado dos meus pares, dos que me procuravam - gente humilde, gente importante -, todos iguais no sofrimento, naquele encontro singular que é a clínica, na procura de um consolo, de uma esperança", congratulou-se.

Em 2015, João Lobo Antunes foi também distinguido com o Prémio Nacional de Saúde 2015 pela Direção-Geral da Saúde (DGS), que destacou o seu contributo para o prestígio internacional do sistema de saúde português. “Cirurgião reputado, sábio homem da ciência e eticista, João Lobo Antunes é uma das figuras que mais contribuiu para o desenvolvimento da ciência médica em Portugal e é considerado um dos neurocirurgiões mais conhecidos do mundo”, referia então a DGS na nota de imprensa que distribuiu.

A paixão pelas letras

No ano passado publicou o seu último livro, “Ouvir com Outros Olhos” porque "muita coisa é dita com o olhar".  Foi assim que se explicou em entrevista ao Expresso, em dezembro do ano passado: "Há anos escrevi que não se pode dizer com os olhos aquilo que se nega com a palavra. Diria que foi a experiência da doença que me tornou mais sensível. Como se tivesse esticado a corda do violino e esta vibrasse ao menor toque, com maior intensidade e frequência. Por isso, mais do que uma mudança sofri uma evolução, que introduziu outra doçura na relação com as pessoas".

Trata-se de  uma colectânea textos que escreveu nos últimos anos, e que se encontravam inéditos ou dispersos em diferentes livros ou revistas. São textos sobre a narrativa na medicina, a profissão de neurocirurgião e a arte médica.

João Lobo Antunes escreveu também sobre dois livros (De Profundis, Valsa Lenta e Sôbolos Rios Que Vão) e dois amigos (Fernando Gil e Henrique Bicha Castelo), bem como sobre a universidade, o transcendente e o país.

A obra inclui também um excerto de "O que quero para Portugal (nos 20 anos do Prémio Pessoa)": "Mas se um génio escapasse de uma lanterna mágica e me desse a possibilidade de cumprir um desejo para Portugal, eu pedir-lhe-ia, acima de tudo, mais justiça. […] Entendida desta forma, é fácil perceber que a justiça é não só o pilar fundamental de qualquer democracia, mas é também a força que dá suficiente robustez moral a um povo, e lhe permite enfrentar com mais convicção e energia as crises com que a modernidade irá, repetidamente, desafiá-lo agora, amanhã, e daqui a 25 anos."

A última lição: "Uma vida examinada"

Em 2014, João Lobo Antunes deu a sua última aula que intitulou "Uma vida examinada". Nessa aula, em que foi condecorado pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva com a Ordem Militar de Santiago de Espada, que distingue o mérito literário, científico e artístico, estiveram presentes os antigos Presidentes da República Ramalho Eanes e Jorge Sampaio, os ministros da Saúde, Paulo Macedo, e da Educação, Nuno Crato, a presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, entre muitos outros convidados.

Nesta última lição, João Lobo Antunes recordou a sua vida, a um dia de completar 70 anos, lembrando os antepassados, a história da sua formação académica, o percurso profissional, a sua incursão' da política enquanto mandatário das candidaturas presidenciais de Jorge Sampaio e Cavaco Silva, terminando com uma promessa: "enquanto as mãos me obedecerem e o cérebro souber mandar eu vou continuar".

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