
"É esse lado de viajante e a forma como ele transmite toda essa sua alma e a alma dos lugares que mostra que o tornaram na personalidade que ele é", afirmou Miguel Pires, em declarações à agência Lusa.
No seu entender, mais do que uma marca na gastronomia, Anthony Bourdain – que passou por Lisboa, Porto e Açores - deixa "uma marca no documentário televisivo sobre viagens e cozinha", o que fazia "com uma grande nobreza e facilidade".
O jornalista referiu que o norte-americano tinha um lado independente "fascinante" e se interessava não só pela cozinha, mas sobretudo pelo "lado político, pelo ambiente e pela história" dos lugares.
O também autor do blogue "Mesa Marcada" acrescentou que o chef, que “nunca se apresentava como tal", "procurava uma certa autenticidade" nos locais que visitava e "não ia apenas fazer turismo nem promover a cidade ou o país, não procurava o guia postal”.
Miguel Pires recordou o profissional como uma pessoa que “diz aquilo que tem a dizer e não está para estar de acordo com as normas”.
“Se for necessário, faz o que lhe apetece e sempre tentou evitar a institucionalização que muitas vezes a fama traz”, afirmou, acrescentando que terá sido esse “lado de independência” que fascinou o público.
O jornalista recordou que Bourdain era um chef relativamente desconhecido até enviar um artigo que não tinha sido pedido para a revista New Yorker.
Depois do sucesso do texto, lançou o livro “Cozinha Confidencial”, que o tornou conhecido e ao qual se somaram outros, além dos programas de televisão.
“O livro narra um pouco o submundo da cozinha, que não era muito falado ou de que raramente se ouvia falar em livros. Era sempre tudo muito bonito e ele veio revelar que em Nova Iorque aquilo era mesmo um mundo um bocadinho cão, com muitos abusos de droga e coisas do género”, referiu Miguel Pires.
Bourdain, lembrou ainda, foi chef num restaurante que pertencia a um português em Nova Iorque – José Meireles, responsável pela sua primeira viagem a Portugal, onde assistiu a uma matança do porco.
O famoso chefe de cozinha cometeu suicídio por enforcamento, confirmou hoje o Ministério Público da localidade francesa de Colmar, onde este se encontrava em trabalho.
Bourdain encontrava-se em França a trabalhar num programa sobre Estrasburgo e foi encontrado morto no seu quarto de hotel pelo chefe francês e seu amigo Eric Ripert.
A estação de televisão em que Bourdain trabalhava, a CNN, tinha avançado anteriormente com a notícia da morte referindo também as circunstâncias da morte.
"É com imensa tristeza que podemos confirmar a morte do nosso amigo e colega Anthony Bourdain", revelou a CNN em comunicado.
Com o seu premiado programa “No Reservations”, Bourdain viajou por uma série de países, à procura dos seus pratos característicos, visitando Portugal em quatro ocasiões e passando por Lisboa, Porto e Açores.
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