Autor de numerosos livros, que o tornaram conhecido pelos portugueses dos mais diversos quadrantes, José Tolentino Mendonça é prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, na Cúria Romana.
Estudou Ciências Bíblicas em Roma e viveu em Lisboa, onde foi professor e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, a instituição que escolheu para o doutoramento em Teologia Bíblica.
Entre as várias funções eclesiásticas que exerceu, foi publicando uma vasta obra de poesia, ensaio e teatro. Colaborou em muitos outros livros como tradutor e organizador.
Considerou a poesia, a arte de resistir ao tempo e viu a sua obra, como autor, distinguida com vários prémios, entre os quais o Prémio Cidade de Lisboa de Poesia (1998), o Prémio Pen Club de Ensaio (2005), o italiano Res Magnae, para ensaio (2015), o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE (2016), O Grande Prémio APE de Crónica (2016) e o Prémio Capri-San Michele (2017).
Iniciou os estudos de Teologia em 1982 e foi ordenado padre em 1990, tendo sido nomeado, em 2011, consultor do Conselho Pontifício da Cultura. Em 2015, foi um dos autores selecionados para os exames nacionais de Português.
Um cardeal amigo de Francisco — e da cultura
Em 2018, o Papa Francisco escolheu o então padre e vice-reitor da UCP para orientar o retiro espiritual durante a Quaresma. Durante seis dias, em Ariccia, a cerca de 30 quilómetros de Roma, Tolentino apresentou 10 sessões de meditação em torno do tema "O elogio da sede".
"Quando o Santo Padre quis falar comigo para que colaborasse nos Exercícios da Quaresma, disse-lhe que eu sou apenas um pobre padre, e é a verdade. Ele encorajou-me a partilhar da minha pobreza", referiu Tolentino na altura, num texto publicado no site da Pastoral da Cultura.
De seguida, a 26 de junho, o Papa nomeou Tolentino como arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana. "Para mim, não há diferença entre uma biblioteca e um jardim", notou, após a nomeação a sua ordenação episcopal, a 28 de julho do mesmo ano, em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos.
Já em 2019, a 5 de outubro, Tolentino Mendonça foi criado cardeal pelo Papa Francisco. Com esse passo, Tolentino Mendonça perguntou a Francisco: "Santo Padre, o que é que me fez?". Segundo o próprio cardeal português, o Pontífice riu-se e disse: "Olha, a ti eu digo aquilo que um poeta disse, 'tu és a poesia'".
"Foram palavras que eu guardo no meu coração, no fundo para dizer uma coisa essencial, que a Igreja conta com uma determinada sensibilidade, uma atenção a um determinado campo humano, que é o campo da cultura, das artes, da estética", afirmou Tolentino Mendonça aos jornalistas naquele dia.
Quando designado cardeal, em 2019, foi agraciado com duas comendas: Ordem do Infante D. Henrique e Ordem Militar de Sant'Iago de Espada.
Na altura, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que a nomeação de Tolentino de Mendonça como cardeal traduz o “reconhecimento de uma personalidade ímpar”, assim como a presença da Igreja Católica na sociedade portuguesa.
Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou ainda a “excecional relevância” de Tolentino Mendonça como “filósofo, pensador, escritor, professor e humanista”, recordando que o convidou para presidir às comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em 2020.
Os alertas de Tolentino
As intervenções do cardeal trazem, habitualmente, mensagens que fazer olhar para a atualidade e para a relação entre as pessoas. Vejamos alguns exemplos:
A solidão
“São tantos os contra sinais a que temos de resistir. Um deles, hoje dramático, é o da solidão. Nas sociedades contemporâneas, a solidão tornou-se numa epidemia descontrolada que grassa”, afirmou D. José Tolentino de Mendonça, na coroação de Nossa Senhora da Soledade em Mafra, em setembro deste ano.
Segundo o Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé, “hoje morre-se de solidão e a solidão não se cura com comprimidos. Somos nós a medicina uns dos outros”.
“O drama da solidão responsabiliza-nos não só quando é fácil, mas também quando é árduo e demorado”, disse o enviado especial do Papa na cerimónia.
O cuidado com os outros
“Hoje vivemos também numa cultura muito polarizada, às vezes até ao exagero. Cada um tem a sua opinião e ninguém se quer ouvir. Tornamo-nos uma sociedade de surdos, em que as diferenças parecem que são impedimentos, obstáculos, em vez de serem lugares de complementaridade, de crescimento e de encontro”, declarou Tolentino de Mendonça na homilia da missa de Natal do ano passado, no Funchal.
O cardeal madeirense defendeu que são precisas sociedades compostas por cidadãos que tenham “curiosidade pelos outros, uma sã abertura uns aos outros, mesmo pensando coisas muito diferentes”.
Tolentino referiu também as estatísticas dos suicídios em Portugal, considerando que isto “é um sinal” que não pode ser ignorado.
“É um grito. Há irmãs e irmãos nossos a viver sofrimentos, a achar que já não são capazes de ‘dar a volta’, de ter uma segunda oportunidade na vida e têm a tentação de pôr fim à sua história. Queridos irmãos, isto não pode acontecer”, sublinhou.
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