No Congresso do PCP, que decorre até domingo em Almada, uma livraria das Edições Avante e da Página a Página torna-se ponto de encontro para cultura e ideologia, com um catálogo variado que reflete os temas em discussão na reunião magna.

“Posso dizer que se vende tudo, de Álvaro Cunhal a romances, às coisas de Marx e do Engels, a coisas da reforma agrária e das guerras que assolam o mundo. É mesmo muito variado”, contou à Lusa Hugo Freire, responsável pela organização dos livros.

Um dos destaques é o clássico “Quando os Lobos Uivam”, de Aquilino Ribeiro, que continua a atrair a atenção dos leitores, acrescenta.

Segundo Hugo Freire, o novo livro do dirigente comunista, antigo candidato presidencial e ex-padre Edgar Silva “Vendaval de Utopias”, que aborda a relação entre os católicos e o PCP na Revolução Portuguesa, é outro dos títulos procurados.

Os jovens, por sua vez, têm demonstrado interesse em obras teóricas, um fenómeno que Hugo Freire atribui ao período pós-pandemia.

“Temos vendido muita matéria teórica aos jovens, como obras do professor José Barata Moura, de Marx, Engels e Cunhal. É mais numa perspetiva teórica do que de diversão ou romance”, considera.

Ana Santos, de 21 anos, militante da Juventude Comunista Portuguesa, confirma: “Os jovens da JCP procuram livros que os ajudem a entender o mundo de forma crítica. Marx e Engels são sempre fundamentais, mas também procuramos obras que falem de lutas contemporâneas e de história portuguesa, como as obras de Álvaro Cunhal”.

Para a jovem, a livraria é um espaço de aprendizagem indispensável: “Não é apenas comprar um livro, é levar ideias para refletir e discutir nas nossas reuniões”.

Embora as Edições Avante sejam vinculadas ao PCP, Hugo esclareceu que a livraria não pertence formalmente ao partido: “As Edições Avante têm, sim, um caráter político e ideológico, e temos outra editora, a Página a Página, que também é claramente de esquerda. Escolhemos os livros que achamos mais vendáveis e interessantes para os camaradas que vêm ao congresso, mas também para os convidados e para a comunicação social”.

A livraria funciona como um “reflexo do espírito do congresso”, um espaço de formação política, memória histórica e diálogo com diversos públicos, aponta Hugo Freire.

“O congresso não é só discussão política, também tem um lado cultural, e a livraria é uma parte importante disso. As pessoas vêm aqui para aprender, refletir e, muitas vezes, levar um pedaço do congresso para casa em forma de livro”.

O PCP iniciou na sexta-feira o seu 22.º Congresso, que conta com a participação de cerca de 1.040 delegados e que arrancou com um discurso do secretário-geral do partido, Paulo Raimundo.

Os delegados elegem hoje a nova composição do Comité Central do partido, órgão máximo entre congressos, que deverá consagrar uma direção com menos membros, mais jovem e com mais mulheres.