Os jovens “participam sistematicamente menos” nas modalidades “convencionais”, como as eleições ou comícios partidários, concluiu o estudo “A Participação Política da Juventude em Portugal”, apresentado durante a tarde de hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
No entanto, têm um “protagonismo especialmente destacado e distintivo” na participação política ‘online’, nomeadamente ao nível da discussão política nas redes sociais, assim como na participação cívica, através de manifestações, assinatura de petições, recolha de fundos ou o boicote a “certos produtos por razões políticas” ou contra as alterações climáticas.
“Não podemos compreender a participação política dos jovens e a sua predisposição para se interessarem por política se olharmos apenas para a participação eleitoral”, disse à Lusa Pedro Magalhães, investigador na Universidade de Lisboa e um dos coordenadores do estudo, que está dividido em cinco relatórios.
A investigação, promovida pela Fundação Gulbenkian em parceria com o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa, contou com a participação das universidades de Aveiro, Lisboa, Minho e Porto.
A votação em eleições “é importantíssima”, mas Pedro Magalhães alertou que “não se pode desvalorizar o interesse e a motivação que os jovens, e de forma crescente, colocam em outras formas de participação”.
“As atitudes políticas, a maneira de olhar para o mundo e para a política… Os jovens aí, ao contrário do que muitas vezes se pensa, em termos de passividade, desinteresse… O que vemos é exatamente o contrário”, exemplificou.
O estudo foi desenvolvido em 2020 e teve como referências outros dois de 2007 e 2015 sobre o mesmo assunto. Os investigadores recorreram ao Inquérito Social Europeu, a inquéritos e entrevistas a jovens.
Patrício Costa, professor na Universidade do Minho e também coordenador desta investigação, explicou que há indicadores que demonstram que a geração mais jovem (entre os 15 e os 24 anos) é “mais consciente” e tem “outras preocupações, outras motivações”, a que “as estruturas partidárias não respondem”.
Se por um lado os níveis de participação política eleitoral da juventude portuguesa estão abaixo da média europeia, os níveis de participação política ‘online’ e em movimentos cívicos estão em linha com os jovens concidadãos europeus, referiram os autores do estudo.
De acordo com as conclusões desta investigação, “os mais jovens exibem também maiores níveis de ‘autoeficácia política'”, ou seja, consideram ser mais capazes de influenciar os processos e decisões políticas e que o aparelho político “está disponível para ouvir as opiniões e exigências dos cidadãos”.
Contudo, apenas uma “ínfima minoria” tem uma militância partidária, enquanto a maioria rejeita a participação política apelidada de “convencional”.
A análise concluiu que, entre os inquiridos que participam em juventudes partidárias, há a perceção de que os partidos “têm estratégias de comunicação e mobilização inadequadas” e há uma “visão predominante instrumental” destas estruturas juvenis.
“As juventudes partidárias acabam por ser vistas como um elemento discriminatório (…), acabam por cristalizar a ideia de que quem pertence a uma juventude partidária está em constante formação e, portanto, não está ainda apto para se ‘sentar à mesa’ da elite partidária”, descreveu Patrícia Silva, docente na Universidade de Aveiro e uma das investigadoras, durante a apresentação do estudo.
À Lusa, Pedro Magalhães afirmou que os jovens que pertencem às “jotas” sentem que são apenas utilizados quando há eleições, mas acabam por não integrar o processo de discussão interna dos partidos ou integrar listas em lugares elegíveis.
“Existe uma ponte entre as juventudes partidárias e as lideranças partidárias, mas não é uma ponte de um sentido. É uma ponte em que os interesses, as preocupações e as ambições políticas são muito coartadas pelas lideranças políticas. Se isto é verdade para aqueles que já militam nas juventudes partidárias, imaginemos o que é julgam aqueles que estão de fora”, comentou.
Por isso, Pedro Magalhães é da opinião de que deveria haver quotas para jovens, para garantir a uma verdadeira integração na participação política “convencional”.
“As quotas trouxeram um salto qualitativo grande [na presença de mulheres em lugares no parlamento] (…). Não tenho dúvidas de que não é preciso muito para contrariar o tremendo envelhecimento da nossa elite parlamentar”, referiu.
A presença de mais jovens nas listas de deputados, prosseguiu, também iria “marcar a agenda política” com assuntos que estão ausentes atualmente e que são considerados “vitais” para os jovens: “São temos que vão ter efeitos no futuro e não efeitos imediatos — a educação, a ciência e o ambiente. Foram temas tão ausentes da campanha eleitoral”.
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