Nos tempos em que vivemos é difícil contornar uma conquista tão grande como a possibilidade de vir a ser a primeira mulher a liderar a Juventude Social Democrata e de, em Portugal, se poder tornar numa das primeiras mulheres à frente de uma juventude partidária no século XXI.
Para Margarida é isto. Ou melhor, também é isto, mas não só.
“Não quero ser conhecida como a primeira mulher a estar à frente da JSD, quero ser conhecida como a melhor presidente de sempre da JSD”, disse jovem deputada aquando da apresentação da sua candidatura à liderança.
Margarida Balseiro Lopes diz que "a lógica de ser a primeira mulher a concorrer a este cargo é importante mas também redutora", sem, no entanto, ignorar relevância da ocasião, sobretudo a oportunidade de servir de exemplo “a outras raparigas e a outras mulheres, encorajando-as a entrar na política”, diz à Visão. Mas rejeita que este seja o “fator mobilizador” da sua candidatura.
No entanto há um facto de que não pode escapar: caso a deputada mais nova da bancada laranja derrote André Neves e seja eleita presidente no XXV Congresso da JSD alcançará um feito que ainda é pouco comum na política portuguesa. Nos dias que correm ainda são poucas as mulheres a ocupar cargos de topo nos partidos e juventudes partidárias portugueses. Olhando para a família laranja, apenas uma mulher esteve à frente dos destinos do PSD, Manuela Ferreira Leite entre 2008 e 2010.
Olhando à volta, nas outras juventudes o caso também ganharia preponderância, uma vez que apenas a Ecolojovem, juventude do Partido Os Verdes, atualmente com Beatriz Goulart como coordenadora nacional, e a Juventude Socialista, a juventude partidária do Partido Socialista, que entre 1981 e 1984, foi liderada por Margarida Marques, antiga deputada europeia e que chegou a ser secretária de Estado dos Assuntos Europeus no atual governo, e entre 2000 e 2004 por Jamila Madeira, antiga deputada e eurodeputada, foram lideradas por mulheres.
A educação como baluarte
Militante desde dos 15 anos, Margarida quer “uma JSD que não se acomode e que incomode” - “não se está na política para não incomodar”, diz - e para isso aponta como necessário “reforçar o capital político da JSD junto da opinião pública”.
Para o conseguir, quer fazer da Juventude Social Democrata ponte entre os jovens e a política e para isso faz do campo da Educação uma das suas grandes causas. Tendo um percurso que começou cedo na ‘jota’, aos 15 anos, e que cresceu, politicamente, também através do seu percurso na Associação Académica durante o período em que se frequentou a licenciatura na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Margarida Balseiro Lopes assume uma posição crítica em relação ao atual sistema educativo.
“A Educação em Portugal está muito amarrada à ideia do professor que debita matéria, faz o exame ao aluno e dá a nota final”, diz a jovem deputada ao Público, defendendo “mudanças profundas” em políticas e no sistema de educação e apontando os modelos progressistas da Europa como exemplo onde, em alguns deles, “já acabaram com as disciplinas”, não caindo, no entanto, em utopias, e percebendo que o país ainda não está apto para dar esse salto e que as reformas devem ser feitas a 'par e passo'.
Autonomia, a palavra de ordem
Margarida Balseiro Lopes tem vindo a ganhar protagonismo no espaço político português desde que, nas eleições legislativas de 2015, foi eleita para a Assembleia da República. Atualmente, aos 28 anos, é a deputada mais nova da bancada do PSD, e, a par de Cristóvão Simão Ribeiro, o líder da ‘jota’ laranja, procuram ser a voz da JSD dentro do Parlamento.
A advogada que é mestre em Direito e Gestão pela Universidade Católica, e encontra-se atualmente a fazer especialização em Direito Fiscal, e que conta no seu currículo profissional com a passagem por uma consultora, faz atualmente parte de três comissões parlamentares: Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, a Comissão de Educação e Ciência e a Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto.
'Passista' assumida, nas últimas eleições à liderança do PSD optou por se abster de apoiar formalmente qualquer um dos candidatos. Fê-lo, conta ao Público, “para salvaguardar a estrutura da jota”, mesmo depois do líder ter declarado o apoio a Pedro Santana Lopes. "Podia ficar mais condicionada se apoiasse formalmente um candidato, fosse ele qual fosse”, conta assumindo, no entanto, que acredita que poderá ter uma boa relação com a nova direção do partido.
“Tenho a expectativa que vai trabalhar em colaboração com a Jota e se há pessoa que conhece o ADN da JSD é ele [Rui Rio], porque também fez parte dela”, declara a deputada.
Mas que fique bem assente a JSD e o PSD estão juntos, mas não são siameses, e portanto à que reforçar um ADN próprio. Margarida quer vencer a presidência para construir “uma JSD que seja leal, mas não refém do partido. Que seja autónoma na agenda que tem, na ação que desenvolve e nos discursos que faz, respeitando assim a sua história e o seu passado”, sublinha na sua nota de candidatura no site de campanha sob o lema “Conquistar Portugal”.
É sobre esse mesmo lema que Margarida não aponta só a JSD, ou melhor, aponta a juventude partidária como um elo de ligação capaz de crescer em todas as suas estruturas por forma a ter um número de militantes ativos cada vez maior porque, diz, as “prioridades de uma juventude partidária é falar, sobretudo, daqueles que são os problemas dos jovens, sejam de Bragança, do Corvo, de Leiria ou de Lisboa”. “A JSD tem de ser a juventude partidária que fala dos problemas diários dos jovens portugueses, mas que tem também a capacidade de antecipar o seu futuro”, sublinha.
Natural da Marinha Grande, uma cidade que nunca conheceu outra liderança com outra ideologia política que não a esquerda, Margarida Balseiro Lopes liderou nas últimas eleições autárquicas a lista à Assembleia Municipal, tendo conquistado o cargo de deputada municipal.
Agora no XXV Congresso da JSD, que vai decorrer nos dias 13, 14 e 15 de abril na Póvoa de Varzim, no Porto, aquela que tem vindo a ser apelidada de “sucessora natural” da atual liderança quer mais. Quer somar às suas conquistas a liderança de uma estrutura, da estrutura onde milita desde os 15 anos. Quer mais. Quer ser a primeira mulher à frente da JSD e fazer história.
*Artigo corrigido às 18h13 com o acréscimo de informação acerca de Jamila Madeira, presidente da Juventude Socialista entre 2000 e 2004.
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