Os livros já não são só promovidos nas livrarias. Atualmente, a rede social TikTok tem servido como ponte para a leitura, o que aproxima os jovens deste mundo da literatura.

Para Miguel Pauseiro, presidente da APEL - Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, "em Portugal, o impacto do TikTok na promoção da leitura tem sido muito positivo".

"Desde o confinamento, assistimos a um crescimento da comunidade de leitores, especialmente entre os mais jovens. O TikTok desempenhou um papel fundamental ao criar uma dinâmica de descoberta e partilha de livros, incentivando a compra para consumo próprio", diz ao SAPO24.

Consequentemente, "este fenómeno tem contribuído para o crescimento do mercado livreiro, que registou um aumento de 9% em
2024, o qual advém maioritariamente do aumento de livros comprados na categoria de Ficção, que cresceu 13% face a 2023, nomeadamente a Literatura (12%), a Ficção Infantojuvenil (15%) e a Literatura Importada (20%)".

Contudo, ainda há algum preconceito quanto ao tipo de obras divulgadas — mas até isso pode ser ultrapassado. "A leitura, independentemente do género ou da origem da recomendação, é um fator determinante no desenvolvimento do potencial humano, a nível individual e coletivo. O TikTok abriu espaço para novas discussões literárias e ajudou a criar hábitos de leitura entre os mais jovens", começa por explicar Miguel Pauseiro.

Por isso, o presidente da APEL considera que "o importante é que os leitores desenvolvam o gosto pela leitura, e isso pode começar por qualquer tipo de livro. Naturalmente, à medida que um leitor aprofunda esse hábito, tende a tornar-se cada vez mais proficiente e a ousar explorar diferentes géneros e estilos, mais literários ou mais densos nas temáticas abordadas".

"O TikTok já tem um impacto significativo na forma como os jovens descobrem livros, incentivando a leitura de títulos que talvez nunca lhes chegassem de outra forma. A interação e as recomendações personalizadas criam um efeito de rede que gera curiosidade e incentiva a leitura", acrescenta.

"Além disso, iniciativas como o Plano Nacional de Leitura ajudam a consolidar esse hábito, direcionando os jovens para obras de referência que complementam as tendências do BookTok. A combinação do digital com programas estruturados de promoção da leitura tem mostrado ser uma estratégia eficaz para captar e fidelizar novos leitores", nota o presidente da APEL.

Booktokers? Quem são?

A febre dos livros no TikTok leva a que alguns perfis tenham milhares de seguidores e gostos. Geralmente, os conteúdos consistem em análises aos livros, também com a existência de passatempos e com muita interação entre os leitores.

O SAPO24 fez a recolha de alguns destes nomes:

  • Mariana Mousinho (@marianacmousinho) - 15,2 mil seguidores, 1 milhão de gostos
  • Eva (@evacmak) - 12,8 mil seguidores, 408,4 mil gostos
  • Maria Rita (@mariaqritaa) - 23,3 mil seguidores, 871,3 mil gostos
  • Sérgio Alves (@itssergioalbesbooks) - 41,2 mil seguidores, 1,9 milhões de gostos
  • Íris Bicho (@irisbicho) - 22,3 mil seguidores, 1 milhão de gostos

Uma "moda passageira"?

O ano de 2024 provou que o mercado livreiro "continua a crescer muito por efeito da compra de livros pelas faixas etárias mais novas, nomeadamente na categoria de ficção".

"Isto é o resultado de um esforço coletivo que começa nos jovens, mas que envolve pais, educadores, influenciadores, autores, editores, livreiros, entidades e organismos públicos, e que está a dar frutos. As redes sociais têm desempenhado um papel relevante na recuperação dos hábitos de leitura", adianta Miguel Pauseiro, ao citar dados da análise da GfK ao mercado.

Todavia, "está longe de estar consolidado, há ainda muito para fazer", garante. "Não podemos permitir que seja uma moda passageira, mas sim uma mudança estrutural que vinque a centralidade do livro no processo educativo e formativo das crianças e dos jovens, bem como nas relações interpessoais, familiares e sociais".

"Nesse sentido, a APEL reafirma que é determinante dar continuidade a este movimento de congregação de esforços e acredita que uma medida que trará benefícios duradouros é o reforço do Programa Cheque-Livro", nota.

Digital começa a conquistar terreno, mas ainda não ganha

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De acordo com o estudo "Mercado do Livro: Hábitos de Compra e Leitura em Portugal", divulgado em setembro de 2024 no Book 2.0, "a compra de livros em papel continua a reunir a preferência dos portugueses, com 97% dos inquiridos a responder que compra neste formato".

"No entanto, o mesmo estudo adianta que, em 2023, a opção pela compra em formato digital começa a ganhar algum terreno com 10% (8% em 2022) dos inquiridos a responder também ter adquirido livros neste formato", realça o presidente da APEL.

Por sua vez, "os dados de mercado da GfK, referentes ao ano de 2024, mostram que o crescimento é transversal nos principais canais de venda de livros, tendo ocorrido de forma homogénea no canal livreiro e na grande distribuição".