Numa era em que os muros se tornaram promessas eleitorais de divisões entre povos, símbolos de uma nova política conservadora e rígida em matérias de migração, a notícia de que o novo Bairro da Integração de Leiria estava isolado por um muro de dois metros - "de um lado estão os ciganos, do outro as vivendas", disse um morador ao Jornal de Notícias - levou o tema para a atualidade nacional.
Apelidado como “muro da vergonha”, por uma moradora, a Câmara Municipal prestou esclarecimentos em relação ao projeto afirmando que “não existem vivendas do outro lado do muro”, mas sim um terreno baldio florestal, que não oferece condições de segurança”, pelo que o muro tem uma função de proteção dado o risco “histórico de incêndios florestais naquela zona”, tendo sido também “uma obrigatoriedade da candidatura ao Planos Estratégicos de Desenvolvimento Urbano”.
Para mais, a autarquia afirma que o bairro não está isolado, uma vez que o muro “existe apenas numa lateral e no tardoz”, reconhecendo que a construção do mesmo foi abordada por alguns moradores que “acolheram as razões apresentadas pelo Município para a sua construção”.
Ao JN, a vereadora do Desenvolvimento Social da Câmara de Leiria, Ana Valente, disse que a intenção do município é que este muro integre o projeto Paredes com História, isto é, que seja pintado por artistas.
Uma ideia que não parece convencer os moradores. Em declarações à TSF, uma residente diz "nós não queríamos arte. Queríamos ter espaço",
Um caixote do lixo e problemas de circulação automóvel
Os residentes do bairro queixam-se de que a construção do muro dificultou a circulação automóvel, uma vez que rouba espaço às faixas de rodagem e tira lugares de estacionamento. Os habitantes lamentam ainda o facto de apenas existir um caixote do lixo para servir as 18 habitações.
Sem se debruçar sobre a questão dos caixotes do lixo, o comunicado da Câmara Municipal destaca o “investimento superior a meio milhão de euros para oferecer condições dignas de vida aos moradores, que antes não tinham”, explicando que o bairro “apresentava um estado de profunda degradação, com telhados em fibrocimento”.
Segundo a mesma nota, as obras neste bairro social “eram solicitadas pelos moradores há décadas”, um apelo agora respondido com a recuperação de 18 habitações que oferecem lar a 47 moradores.
As obras abrangeram colocação de infraestruturas, e, nas habitações, a substituição de cobertura, caixilharia, piso, pintura e colocação de novo mobiliário, nomeadamente de cozinha e WC. Também o espaço envolvente foi significativamente melhorado, nomeadamente com a criação de arruamentos, acessibilidades e estacionamento, refere a Câmara na nota publicado.
Um muro mais baixo e mais distante e um pedido de esclarecimentos
Insatisfeitos com o muro, os residentes pedem que o mesmo seja mais baixo e que fique mais afastado das casas de forma a alargar a estrada e assim facilitar a circulação de carros.
O tema chegou ao parlamento e os deputados sociais-democratas pedem esclarecimentos ao município liderado por Gonçalo Lopes (PS) alegando que as “justificações avançadas pela autarquia leiriense parecem querer disfarçar uma inegável segregação social”, mas até agora só há uma garantia dada pela Câmara: o muro não vai ser demolido.
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