Conselheira de Estado, ex-ministra e ex-dirigente social-democrata, Leonor Beleza encerrou hoje os quatro dias de trabalho da Escola Europa, uma iniciativa do Partido Social-Democrata (PSD) de Portugal e do Partido Popular (PP) de Espanha, com o apoio do Partido Popular Europeu (PPE), que reuniu em Lisboa meia centena de estudantes portugueses e espanhóis entre quinta-feira e hoje.
A Europa “não é uma questão dos que estão lá em Bruxelas, é uma coisa muito mais intensa, uma coisa que tem a ver com as nossas vidas. A Europa é exatamente aquilo que nós votamos e que escolhemos, que discutimos, que nos permite circular, trabalhar, estudar, investigar, respeitar direitos e promover solidariedade, valores e ideias”, disse.
“O que vos peço encarecidamente é que façam compreender que isto só existe porque existe Europa. Sejamos capazes de explicar bem, nomeadamente aos mais novos, que aquilo que eles têm hoje está a ser discutido, pode ser posto em causa, pode não existir para a geração a seguir”, frisou.
Leonor Beleza, que iniciou a sua intervenção com um “contexto histórico” para explicar aos jovens como o mundo em que nasceu era diferente e como a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE) foi para si “um momento emocionante de integração na paz e na democracia”, apelou para que não se olhe para a Europa “só em função dos interesses” económicos, mas como algo “que tem a ver com sentimentos e com pertença”.
“As próximas eleições europeias são tão importantes como as eleições nacionais. Porque acredito profundamente na Europa, não apenas na ideia de Europa, mas na Europa que existe e que eu gostava que fosse mais intensa e mais forte, e também porque no atual contexto sabemos que há […] múltiplas opiniões que não valorizam a Europa como eu valorizo”, disse.
Para a responsável social-democrata, “a gestão das diferenças” de opinião é “hoje uma questão política fundamental”, mas ao mesmo tempo que é próprio da democracia reconhecer o direito à opinião, “há diferenças que devem combater-se de uma maneira muito intensa”.
“Tudo o que está dentro de direitos humanos, paz e democracia, se pensam de uma maneira diferente de nós, é para combater de maneira intensa. Eu não estou preparada e não quero ter de me compatibilizar com quem tem diferenças a esse nível comigo”, disse.
E, no plano, da “diversidade das escolhas democráticas”, as diferenças devem ser discutidas, mas “sem confundir nem extremar divisões”, defendeu.
Evocando como até há pouco tempo as alternativas nos países europeus eram “entre partidos que partilham da mesma visão da Europa e do Ocidente, que partilham valores fundamentais”, Leonor Beleza evocou o alerta feito há 20 anos pelo então líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, de que a construção europeia “unia larguíssimos setores da opinião política”, o que tinha nomeadamente como efeito “limitar internamente, em cada Estado, as áreas de divisão e de discussão política”, o que podia ser “um problema” em “países habituados a extremar posições em torno do combate político”.
“E a verdade é que hoje, as franjas, que espero que a gente possa continuar a chamar franjas, políticas antieuropeias, aliás dos dois lados, têm vindo a alargar espaço e a empurrar para o centro da discussão o que temos por valores partilhados e europeus e obrigado, assim espero, a cerrar esforços em torno daquilo que julgávamos que não estaria e que não deveria estar em causa”, disse.
“Por isso digo, e repito, as eleições europeias são tão importantes. […] E perigosas. E é por isso que precisamos tanto que todos vocês se envolvam para explicar estas coisas”, frisou.
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