Última atualização às 09:35 de quinta-feira, dia 6 de agosto.


O que se sabe até agora

  • Duas fortes explosões sucessivas sacudiram aa terça-feira, dia 4, o porto de Beirute, semeando o pânico e causando um enorme cogumelo de fumo no céu da capital libanesa. Esta catástrofe, como lhe chamou o ministro da Saúde, veio na pior altura possível. O país está a atravessar a pior crise económica em décadas, marcada pelo colapso da sua moeda e demissões em massa que alimentam o descontentamento social desde há vários meses;
  • A deslocação do ar provocada pela deflagração foi sentida até na ilha de Chipre, a mais de 200 quilómetros de Beirute. Os hospitais da cidade, a contas com a pandemia, rapidamente atingiram a sua capacidade. Estão sem eletricidade e a pedir geradores para continuar a funcionar. As imagens do rasto de destruição assemelham-se às registadas na cidade chinesa de Tianjin, em 2015. Tal como se verificou esta terça-feira, as de 12 de agosto daquele ano foram provocadas por explosões de agentes químicos e deixaram um cenário semelhante a um caos dantesco.
  • Segundo o primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, na origem das explosões estiveram 2.750 toneladas de nitrato de amónio armazenadas num depósito do porto de Beirute. "O que aconteceu hoje não ficará impune. Os responsáveis por esse desastre terão de pagar pelo que fizeram", disse numa comunicação ao país pelas televisões. O governante salientou também que o armazém estava sinalizado desde 2014.
  • Com base nos cadastros dos navios e nos calendários portuários, a Associated Press especulou que o navio que transportava nitrato de amónio, carga que terá provocado explosões no porto de Beirute, tinha como destino Moçambique, tendo atracado no porto da capital do Líbano, Beirute, devido a problemas mecânicos, em 2013. Contudo, a Cornelder, empresa gestora do porto da Beira, disse hoje à Lusa que nunca foi notificada sobre a operação de um navio com 2.750 toneladas de nitrato de amónio com destino a Moçambique.
  • Esta quinta-feira, o novo balanço divulgado pelas autoridades libanesas revela que 137 pessoas morreram e mais de 5.000 ficaram feridas nas duas violentas explosões que sacudiram o porto de Beirute. Cerca de 100 pessoas estão desaparecidas. Num breve discurso transmitido pela televisão ontem de manhã, Hassan Diab reiterou a promessa de encontrar e punir os responsáveis pelas duas explosões.
  • Segundo o ministro da Saúde libanês, citado pela Reuters, há "muitos desaparecidos". "As pessoas estão a perguntar aos departamentos de emergência pelos seus entes queridos e é difícil fazer a procura durante a noite porque não há eletricidade", explicou Hamad Hasan à agência de notícias. "Estamos a enfrentar uma catástrofe real e precisamos de tempo para averiguar a dimensão dos danos", finalizou.
  • O Presidente libanês, Michel Aoun, convocou uma "reunião urgente" do Conselho Supremo de Defesa e Hassan Diab declarou um dia de luto nacional, na quarta-feira, 5 de agosto, "pelas vítimas da explosão". De acordo com The Guardian, que cita a agência Reuters, o presidente irá declarar uma situação de Estado de Emergência em Beirute para as próximas duas semanas.
  • Israel, que tecnicamente ainda se encontra em guerra com o Líbano, já ofereceu assistência humanitária para ajudar na resposta das autoridades locais. Na rede social Twitter, o ministro da Defesa israelita, Benny Gantz, indicou que Israel entrou em contacto com o governo libanês através de "canais diplomáticos".
  • Testemunhos. "Senti-me como se estivesse perante um terramoto e depois ouvi uma explosão, seguida de outra, que abriram as janelas. Foi mais forte do que a explosão que matou Rafik Hariri", disse uma habitante da cidade, referindo-se ao atentado à bomba, em 2005, que vitimou um conhecido homem de negócios libanês.
  • Contudo, um cidadão português, a morar há um ano no Líbano, pediu ajuda para regressar a Portugal após as explosões que atingiram a capital libanesa. De acordo com fonte do gabinete da secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, o português, “casado com uma libanesa, pediu que o processo para o seu regresso fosse acelerado, uma vez que a mulher precisa de visto”.
  • Vários governantes e líderes mundiais já ofereceram ajuda humanitária ao Líbano, tais como o Reino Unido, França, Austrália, Estados Unidos, Canadá e Israel.
  • O governo francês vai enviar hoje para o Líbano dois aviões de transporte militar com equipas da proteção civil e material com ajuda de emergência às vítimas das explosões de terça-feira em Beirute. Fontes da presidência francesa indicaram que os dois aparelhos militares, um A400M e um MRTT, vão transportar 55 pessoas e 15 toneladas de material, assim como uma unidade sanitária que pode prestar cuidados a 500 feridos. A França vai enviar também mais uma dezena de médicos e enfermeiros especializados em situações de emergência para reforçarem os hospitais e as equipas locais.
  • A Cruz Vermelha Portuguesa afirmou que "não está fora de hipótese" a participação portuguesa em Beirute. “Nós estamos em estreita articulação com a Federação Internacional da Cruz Vermelha, que por sua vez, está em estreita articulação com a Cruz Vermelha do Líbano, que é quem está a dar resposta a nível local no sentido de avaliar as necessidades no terreno”, disse Gonçalo Órfão.
  • "A União Europeia expressa a sua total solidariedade e apoio às famílias das vítimas, à população e às autoridades libanesas na sequência das violentas explosões que afetaram Beirute", disse esta quarta-feira o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell.

O Líbano viveu 15 anos de guerra civil (1975-1990) e esteve sob a tutela síria dos anos 1990 até à retirada dos militares sírios em 2005. As instituições políticas há muito tempo que estão paralisadas devido a antagonismos entre os pró e os anti sírios.

Na próxima sexta-feira, o Tribunal Especial do Líbano, com sede na Holanda, deve emitir o seu veredicto no julgamento de quatro homens que são suspeitos de pertencerem ao poderoso movimento libanês Hezbollah, acusado de participar no assassinato de Rafik Hariri, em 2005.

Há uma semana, após meses de relativa calma, Israel disse que tinha impedido um ataque terrorista, abrindo fogo contra homens armados que tinham cruzado a demarcação territorial entre o Líbano e Israel. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, atribuiu a tentativa de ataque ao Hezbollah, apesar dos desmentidos deste movimento libanês.

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