“Toda a guerra termina à mesa de negociações, mesmo que o adversário seja derrotado”, disse Al-Burhan, numa entrevista à britânica Sky News.

“Mesmo que haja uma rendição, ainda pode haver uma negociação”, referiu na entrevista, mesmo depois de ter declarado como um “grupo rebelde” as RSF, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo, que antes de lançar a rebelião numa tentativa de tomar o poder no Sudão era o número dois do Conselho Soberano Sudanês, o mais alto órgão executivo do país, presidido pelo próprio Al-Burhan.

O chefe do exército sudanês adiantou que permanece no complexo presidencial em Cartum – uma área “completamente segura” na sua opinião – e denunciou que são as RSF que estão a aumentar os combates em áreas comerciais e residenciais da capital, que continua praticamente bloqueada.

O exército está a “conter”, para evitar “muitas vítimas civis em áreas residenciais”, disse o líder militar, depois de terem sido confirmadas quase uma centena de mortes entre a população.

O líder das RSF, Mohamed Hamdan Dagalo, tinha apelado a uma “intervenção” da comunidade internacional contra os “crimes” do chefe do exército sudanês, a quem descreveu como “um islamista radical” responsável por “uma campanha brutal” contra “inocentes”.

A Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), a União Africana e as Nações Unidas emitiram uma declaração conjunta hoje instando as partes a uma “pausa humanitária”, depois de uma trégua anunciada no domingo não ter sido cumprida “na sua totalidade”.

Após a revolta de 2021, em que se uniram no golpe de Estado que derrubou o antigo Presidente islamista Omar al-Bashir, após três décadas no poder, os dois líderes comprometeram-se a não envolver os militares nos assuntos políticos do Sudão e a iniciar um processo para devolver o país a um caminho democrático e formar um Governo civil.

No entanto, as diferenças entre os dois militares intensificaram-se há algumas semanas, no meio de negociações para chegarem a um acordo final com grupos civis, e no sábado o exército atacou posições das RFS, numa aparente resposta a um ataque anterior.

Pelo menos 97 civis foram mortos e 942 ficaram feridos desde o início dos combates entre o exército sudanês e grupos paramilitares, avançou hoje o sindicato oficial de médicos.