“Um evento como a Capital Verde deve, na nossa opinião, valer por bem mais do que a sua programação. Este é um evento que valerá tanto mais a pena quanto possa ser aproveitado para promover melhorias efetivas na qualidade de vida em Lisboa, no ambiente urbano”, afirmou o vereador do PCP João Ferreira, em declarações à agência Lusa.
Apesar de reconhecer a importância das iniciativas que vão ocorrer ao longo do ano no âmbito desta distinção, e que arrancam hoje, o comunista defende que faltam “medidas concretas” em domínios como mobilidade, transportes públicos, qualidade do ar, sustentabilidade energética e estrutura verde da cidade.
“Entendemos que é possível e necessário fazer-se mais”, vincou, reiterando que, “mais do que a propaganda que lhe está associada”, a Capital Verde Europeia deverá ser uma oportunidade para levar a cabo “medidas concretas que possam ter um impacto real, mensurável na melhoria da qualidade de vida das populações”.
“É de alguma forma triste e contraditório que nós estejamos a assinalar Lisboa Capital Verde Europeia sendo Lisboa em 2020 uma singularidade no contexto europeu por ser a única capital europeia que tem um aeroporto dentro da cidade, com tudo o que isso implica de prejuízo para a qualidade de vida das populações de poluição da cidade”, destacou ainda João Ferreira.
Por seu turno, o vereador do CDS-PP João Gonçalves Pereira criticou que a autarquia, liderada pelo PS, tenha traçado metas de melhoria da qualidade do ar e do ruído na cidade, mas não faça qualquer referência ao terminal de cruzeiros e ao aeroporto, o que, na sua ótica, “demonstra o caráter desequilibrado de toda esta programação”.
“Esta distinção é positiva, mas eu penso que esta distinção deve de alguma forma ter um sinal de todo um trabalho que ainda é necessário desenvolver. Ou seja, nós podemos ser a capital verde, mas não podemos ignorar que temos um aeroporto que tem níveis de poluição e de ruído altíssimos, que temos por exemplo um terminal de cruzeiros que também por essa via polui, faz ruído”, descreveu, acrescentando que “há um longuíssimo trabalho a fazer”.
Também o vereador do PSD João Pedro Costa admite a importância da realização de conferências, debates e outras iniciativas centradas na sustentabilidade ambiental, mas considera que a política ambiental de Lisboa deve “passar por medidas transversais na área da mobilidade, por exemplo, e também para o cumprimento das metas ambientais, pelo alargamento da rede metropolitana para ocidente” e a chegada da linha amarela (que hoje termina em Odivelas) a Loures.
“Só com uma rede de metropolitano abrangente é que é possível a seguir pedir às pessoas para não usar o veículo próprio sem que fiquem prejudicadas na sua mobilidade”, acrescentou o autarca.
“Mais do que enunciar metas sem se dizer como é que lá se chega, é importante explicar que caminho é que se está a trilhar, por exemplo, para reduzir a emissão de gases com efeito de estufa em Lisboa. E o caminho não pode ser reduzir a mobilidade das pessoas sem dar alternativa”, reforçou.
O BE – partido que tem um acordo de governação do concelho com os socialistas – nota que a Lisboa ganhou o prémio de Capital Verde Europeia 2020 “por mérito da sua evolução nos últimos anos”, mas ressalva que “é insuficiente”.
“É preciso mais para que este galardão não seja apenas mais um galardão e que as ações não sejam só simbólicas, como é o caso da plantação de árvores prevista para este domingo”, lê-se numa resposta escrita enviada à agência Lusa pelo gabinete do vereador bloquista, Manuel Grilo.
A vereação do Bloco destaca ainda a necessidade de melhorar os transportes públicos, a eficiência energética nos edifícios públicos e manifesta preocupação relativamente à expansão do Aeroporto Humberto Delgado, “pondo mesmo em causa o cumprimento das metas nacionais de emissões de gases de efeito de estufa”, e ao terminal de cruzeiros, “responsável por 10% do total das emissões nacionais”.
Comentários