Numa carta aberta, em inglês, publicada nas redes sociais, a livraria portuense dirige-se a "alguém que nunca visitou [a Lello], mas que eu desejava que o tivesse feito".

"Os leitores da Lello fizeram desta livraria um trabalho aberto. Como Umberto Eco explicou nas suas aulas em Harvard, a literatura implica um pacto ficcional que se traduz na aceitação do leitor de uma verdade que supera a realidade da escrita", pode ler-se.

"Pela história da Livraria, escritores de todos os tempos, géneros, línguas e nacionalidades. E como [disse] o autor de O Nome da Rosa (que também por cá passou), todas as narrativas começam 'era uma vez...' Era uma vez uma cidade que tinha uma livraria mágica... 'céra a return a releases a a tower of nasoni' [sic], em italiano ou inglês, 'era uma vez uma jovem futura escritora que viveu numa cidade onde não reparou que havia uma livraria onde milhões dos seus futuros leitores comprariam os seus livros'", continua a mensagem da livraria.

"Quando visitam a Livraria Lello, milhões de leitores de J. K. Rowling descobriram também o universo Harry Potter, e ninguém pode parar este entusiasmo mágico."

"Declarando que quando viveu no Porto não sabia da existência da Livraria Lello, J. K. Rowling dá-nos elementos para a sua autobiografia, reconhecendo que a livraria é muito bonita e confessando que desejava tê-la visitado".

"Por isso, a Livraria Lello fica grata pela simpatia de J. K. Rowling e convida-a para cumprir esse desejo recíproco, no mesmo espírito com que a cidade de Liverpool recebeu os Beatles depois de ficarem famosos em Londres."

"William Shakespeare nunca deixou Inglaterra, mas localizou Romeu e Julieta em Verona [Itália], escreveu o Mercador de Veneza e deu vida ao príncipe da Dinamarca chamado Hamlet. As suas peças produziram personagens tão fortes que levaram Nietzsche a concluir que o imperador Júlio César nunca teria existido se Shakespeare não o tivesse inventado séculos depois do seu assassínio no Senado Romano."

"Apesar de Tchaikovsky nunca ter andado pelo Porto, sabemos que J. K. Rowling ouvia muito a sua música quando vivia na nossa cidade. Não será, por isso, excessivo concluir que Tchaikovsky, que passará a ser ouvido a partir de agora na Livraria Lello, vai continuar a inspirar aqueles que sonham com Hogwarts na famosa escadaria da livraria".

"Desta forma", conclui a livraria, "vamos seguir o pacto ficcional proposto por Eco. Respeitando sempre a mensagem deixada pelo grande semiótico em Harvard: 'Nem eu, como autor dos meus trabalhos, posso caminhar pela floresta da ficção como se estivesse a entrar no meu jardim privado".

J.K. Rowling, a autora da saga Harry Potter, referiu na sua conta, a 21 de maio, de Twitter que pretende clarificar algumas relações habitualmente feitas entre lugares verídicos e inspirações para a obra.

"Eu estava a pensar em colocar uma secção no meu site sobre todas as supostas inspirações e locais de nascimento de Potter", pode ler-se.

Num tweet posterior, a escritora fez referência à conhecida livraria Lello, no Porto. "Por exemplo, nunca visitei esta livraria no Porto. Nunca soube da sua existência! É linda e eu gostaria de a ter visitado, mas não tem nada a ver com Hogwarts!

A livraria portuense remonta ao ano de 1906 e é um edifício de interesse público visitado diariamente por turistas, devido à sua arquitetura e às supostas relações com os livros de Harry Potter. A Lello organiza vários eventos relacionados com o tema.

O crescente fluxo turístico ao longo dos últimos anos na Livraria Lello obrigou a uma nova organização da visita ao edifício com a introdução, em 2015, de um ‘voucher' descontável em livros, que deve ser comprado num edifício perto da Lello. A livraria volta a abrir portas a 30 de maio, depois de 77 dias fechada devido à pandemia do novo coronavírus.

É habitual referir-se que a cidade do Porto inspirou a autora da saga, que em 1991 viajou para a Invicta, onde viveu durante cerca de três anos e escreveu os primeiros rascunhos do livro "Harry Potter e a Pedra Filosofal", que viria a ser lançado em 1997. Vários meios têm referido que a autora se inspirou em vários aspetos da cidade, como as escadas da Livraria Lello, os trajes académicos e o Café Majestic.