O PS repudiou hoje, em conferência de imprensa no parlamento, o incidente na sessão plenária de quinta-feira, quando a deputada do Chega Diva Ribeiro acusou a socialista Ana Sofia Antunes, que é cega, de só conseguir “intervir em assuntos que, infelizmente, envolvem deficiência”.

Após a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, ter anunciado alterações ao código de conduta para incluir sanções, Ana Sofia Antunes relatou na primeira pessoa o episódio que a envolveu.

“Ontem, no plenário da Assembleia da República, eu fui desrespeitada enquanto pessoa com deficiência. Sou uma pessoa com deficiência, sou uma pessoa cega congénita”, disse.

Para lá da ofensa, a deputada considerou “mais grave” que, através das acusações que lhe foram feitas, terem sido no “plenário ofendidas todas as pessoas com deficiência, rotuladas como incapazes, inábeis ou incompetentes”, o que disse ser inaceitável.

“Têm-se tornado frequentes comentários, apartes, afirmações humilhantes vexatórias em relação a diferentes pessoas com diferentes características, sejam elas mulheres, migrantes, com diferentes orientações sexuais, com diferentes características físicas”, lamentou.

Segundo Ana Sofia Antunes, quando se pensa que “mais baixo não se pode descer”, no parlamentou, o Chega aponta “o dedo às pessoas em razão da sua deficiência, sendo inclusive as mesmas caracterizadas num aparte como aberrações”.

“Chegámos a um limiar em que alguma coisa tem que ser feita”, enfatizou.

A deputada do PS defendeu que não se pode “permitir que este livre-trânsito continue a acontecer no parlamento, disfarçado de uma suposta liberdade de expressão”.

Ana Sofia Antunes contrapôs ainda a acusação da deputada do Chega de que só intervém em temas de deficiência e contabilizou cerca de 15 intervenções desde que assumiu o lugar de deputada nesta legislatura sobre temas como segurança ou migrações, acrescentando que é coordenadora do PS na Comissão de Assuntos Europeus.

“Desde que aqui estou como deputada, esta foi a primeira intervenção que fiz em matéria de deficiência”, disse, sublinhando que se reserva o direito de intervir sobre direitos de pessoas com deficiência as vezes entender.

Na quinta-feira à noite, através das redes sociais, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, já tinha criticado este incidente, referindo que o PS “não vai compactuar com o desrespeito” do Chega.

Na mesma noite, o grupo parlamentar dos socialistas informou que vai levar a questão à conferência de líderes parlamentares.

O debate que foi motivado por um projeto de lei do PS que propõe a criação de um regime jurídico dos estudantes com necessidades educativas específicas no ensino superior ficou marcado por insultos da bancada do Chega após a intervenção de Diva Ribeiro.

Diva Ribeiro acusou Ana Sofia Antunes, deputada socialista cega e ex-secretária de Estado da Inclusão, de participar nos debates apenas quando estão em cima da mesa temas relacionados com inclusão.

A declaração motivou um pedido de defesa da honra da bancada parlamentar do PS, com Marina Gonçalves a acusar Diva Ribeiro de desrespeitar “o trabalho sério” dos deputados socialistas que falam “por igual sobre qualquer tema”, e mereceu críticas de outros partidos.

Joana Mortágua, do BE, relatou ainda “ofensas por parte da bancada parlamentar do Chega” dirigidas a Ana Sofia Antunes quando os microfones estavam desligados, acusação corroborada pelo líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, que considerou inaceitáveis os comentários, “muito mais do que o que se continua a dizer - que é demais e pouco dignificante - com o microfone aberto”.