“É um acordo que tem algumas causas importantes, mas é muito insuficiente para aquilo que deveria ser um acordo de governação nos próximos quatro anos”, afirmou Roberto Almada, em entrevista à agência Lusa.

O deputado eleito do Bloco de Esquerda, que regressa à Assembleia Legislativa quatro anos depois de o partido ter perdido a representação parlamentar, disse não estar preocupado com a durabilidade do acordo, que classifica como “legítimo” e “legal”, mas antes com as condições do governo para “garantir a resolução de tantos problemas que os madeirenses têm”.

“Há uma mensagem clara que os eleitores deram. Os eleitores disseram que a maioria que nos governava até agora [PSD/CDS-PP] não deve ter maioria absoluta. Isso obrigou quem ganhou as eleições a ir procurar uma maioria. Isso, do ponto de visita formal, é legítimo, é legal. Aconteceu na Assembleia da República, aconteceu nos Açores. Nada contra isso”, salientou.

Contudo, acrescentou, o que preocupa o BE é que “esses acordos para uma governação de quatro anos não tenham pontos fundamentais”.

“Valorização dos salários, não está lá; valorização das carreiras, não está lá; valorização das pensões ou do complemento regional de pensão, não está lá; resolução de problemas sociais mais graves, não está lá”, destacou, sublinhando que para o BE “é um mau acordo.”

A coligação PSD/CDS-PP venceu as eleições legislativas regionais em 24 de setembro, mas ficou a um deputado da maioria absoluta (elegeu 23 num total de 47 que compõem o parlamento regional), tendo anunciado dois dias depois um acordo de incidência parlamentar com o Pessoas-Animais-Natureza (PAN), que conseguiu um mandato.

“O PAN é daqueles partidos que dizem que não são de esquerda, nem de direita, antes pelo contrário. Não são uma coisa, nem outra”, alertou Roberto Almada, argumentando que “é muito perigoso quando existem partidos que, eles próprios, rejeitam assumir-se politicamente e ideologicamente, porque isso revela não só inconsistência política, como revela que num dia podem estar a apoiar um governo de esquerda, noutro dia podem estar a apoiar um governo de direita ou de extrema-direita”.

Roberto Almada, que tem 53 anos e é técnico superior de Educação Social, disse ainda considerar um “erro” que o PAN estabeleça um acordo para “ficar tudo na mesma” e para “continuar um governo de direita a praticar as mesmas políticas”, como aconteceu nos Açores, lembrando que o BE também defende algumas das causas daquele partido.

“Quem votou no PAN e está descontente sabe também que terá no Bloco de Esquerda quem defenda a causa animal, quem defenda as questões ambientais, as questões que têm a ver com as alterações climáticas e que defenda também os direitos da comunidade LGBTI”, disse, prometendo que o BE defenderá essas causas “quando não cumprirem com aquilo que está no seu programa, quando não forem ao encontro daquelas que são as necessidades das pessoas”.

O deputado eleito do Bloco de Esquerda sublinhou, por outro lado, que o “pluralismo enriquece a democracia”, referindo-se ao facto de terem sido eleitos representantes de nove forças políticas ao parlamento regional – PSD/CDS-PP, PS, JPP, Chega, CDU, IL, PAN e BE –, mas manifestou-se preocupado com “entrada em força” da extrema-direita na Assembleia Legislativa, nomeadamente com a eleição de quatro deputados do Chega.

“Na região autónoma, isso tem maior peso, porque o Chega é um partido anti-autonomista, claramente nacionalista, e que não defende as autonomias. Vamos ver se continuará a ser o diretório nacional a mandar no grupo parlamentar cá ou se vão ser autónomos”, alertou, reconhecendo, no entanto, que “ter a extrema-direita no Governo era pior do que ter só no parlamento”.

Roberto Almada considerou também que apesar de o Chega e a Iniciativa Liberal serem “novidades” na Assembleia Regional, “não trazem grande novidade”.

“Dirão que são oposição, mas todos vimos nos últimos dias a Iniciativa Liberal e o Chega a reclamarem que o principal interlocutor das negociações foi o PAN e não eles. Portanto, queriam ir e querem ir para o Governo com Miguel Albuquerque [líder do Governo Regional e presidente do PSD/Madeira], como aconteceu nos Açores e como querem fazer a nível nacional”, sustentou.

De acordo com o mapa oficial com o resultado das eleições legislativas regionais da Madeira, entre os 47 mandatos a atribuir, a coligação PSD/CDS conseguiu a maioria, com 23 deputados, o PS elegeu 11, o JPP cinco e o Chega quatro, enquanto a coligação PCP/PEV, a IL, PAN e o BE elegeram um deputado cada.