O Governo português tinha dado um prazo até hoje para uma resposta do Iraque ao pedido de levantamento de imunidade diplomática dos dois jovens iraquianos, mas as autoridades daquele país consideraram “prematuro tomar uma decisão” sobre a matéria.

Em comunicado enviado à agência Lusa, a mãe de Rúben Cavaco, de 16 anos, Vilma Pires, considera que os portugueses “não podem aceitar” que o Governo português continue a manter relações diplomáticas com o Iraque, depois de as autoridades daquele país terem “avalizado um crime”.

“Os portugueses não podem aceitar, depois de o Governo do Iraque ter avalizado um crime tão barbaramente cometido por dois jovens iraquianos com imunidade diplomática, em território português e contra um jovem cidadão português, que o Governo português continue a manter relações diplomáticas com o Iraque”, lê-se no documento.

“E se não perdoo à embaixada e ao Governo do Iraque a cobertura que deram para que este crime ficasse impune, ainda perdoarei menos ao Governo português se não mover céu e terra, designadamente, na União Europeia e na Nato, para que se faça justiça”, acrescenta Vilma Pires.

A mãe de Rúben Cavaco afirma que “ todos os portugueses” esperam que “perante a defesa da barbárie e da falta de sentido ético e de justiça demonstrada pelo Governo iraquiano”, o Governo português “responda com a defesa intransigente do valor sagrado da justiça e dos direitos dos seus cidadãos”, sobretudo quando são vítimas de “um crime tão bárbaro cometido” em território português.

Quanto à reparação dos danos que Rúben Cavaco sofreu, Vilma Pires exige que o seu filho “seja indemnizado”, recordando ainda que o embaixador iraquiano decidiu pagar “extrajudicialmente” a despesa hospitalar do seu filho, no valor de 12 mil euros.

“Mas, para que isso aconteça, apelo ao apoio e à compreensão de todos os portugueses e da comunicação social portuguesa para que não consinta que Governo português abandone à sua sorte o meu filho, como sempre costuma fazer com os cidadãos portugueses quando estão em jogo interesses estrangeiros”, lê-se no comunicado.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) informou hoje que Ministério Público vai analisar a resposta enviada pelo Estado iraquiano sobre o pedido de levantamento da imunidade diplomática dos filhos do embaixador em Lisboa.

"O documento será, agora, remetido ao processo, no âmbito do qual será juridicamente apreciado pelo Ministério Público", refere a PGR, numa nota à imprensa, salientando que recebeu, hoje à tarde, a resposta do Estado iraquiano, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros informou que, numa nota enviada ao Governo português, o Iraque "dá conta da disponibilidade dos filhos do embaixador iraquiano em Lisboa para serem desde já ouvidos no inquérito em curso, considerando, todavia, ser ainda prematuro tomar uma decisão a respeito do pedido de levantamento de imunidade".

A resposta do Estado iraquiano foi enviada ao gabinete da procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, "para ser considerada no âmbito do inquérito em curso sobre os incidentes de Ponte de Sor".

O inquérito está a ser conduzido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Évora, precisou hoje a PGR.

A 17 de agosto, Rúben Cavaco, de 16 anos, foi agredido em Ponte de Sor, no distrito de Portalegre, alegadamente pelos filhos do embaixador do Iraque em Portugal, gémeos de 17 anos.

O jovem sofreu múltiplas fraturas, tendo sido transferido, no mesmo dia, do centro de saúde local para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde chegou a estar em coma induzido. O jovem acabou por ter alta hospitalar no início de setembro.

Os dois rapazes suspeitos da agressão são filhos do embaixador iraquiano em Portugal, Saad Mohammed Ali, e têm imunidade diplomática, ao abrigo da Convenção de Viena.