Este é um número recorde desde que esta organização não governamental (ONG) começou a investigar os desaparecimentos de migrantes no mar a caminho de Espanha.

Segundo a organização, o número reflete um “notável aumento de mortes nos últimos dois anos”, já que em 2023 os 6.618 óbitos foram quase o triplo das mortes registadas no ano anterior.

Relativamente a 2024, a Caminando Fronteras destaca que, do total de pessoas que perderam a vida, 421 eram mulheres e 1.538 crianças ou adolescentes. A rota atlântica para as ilhas Canárias “continua a ser a mais letal a nível mundial”, com 9.757 vítimas, ou seja, 93% do total.

Associações que disponibilizam apoio a migrantes:

JRS Portugal — O gabinete jurídico "tem como objetivo assessorar juridicamente os utentes no seu processo de regularização, bem como emitir pareceres e orientações técnicas internas em matérias de Lei de Estrangeiros, Lei de Asilo e legislação acessória". Saiba mais aqui.

Renovar a Mouraria — Centrada na freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, esta associação ajuda com os processos de regularização de quem "vive, trabalha, estuda ou tem filhos que estudam" naquela zona. Conheça o projeto aqui.

Lisbon Project — Este projeto tem como objetivo "construir uma comunidade que integra e capacita migrantes e refugiados". Nesse sentido, tem também disponível um gabinete de apoio jurídico. Fique a par de tudo aqui.

Mundo Feliz — Esta associação ajuda os imigrantes no processo de regularização em Portugal e também na procura de emprego, entre outros serviços. Saiba mais aqui.

Linha de Apoio ao Migrante — Esta linha "tem como principal objetivo responder de forma imediata às questões mais frequentes dos migrantes, disponibilizando telefonicamente toda a informação disponível na área das migrações e encaminhando as chamadas para os serviços competentes". Contactos: 808 257 257 / 218 106 191. Mais informações aqui.

As restantes mortes ocorreram na rota da Argélia (517), no Estreito (110) e na rota de Alborán (72).

O relatório “Monitorização do Direito à Vida 2024”, que recolheu informação até 15 de dezembro e detalhou 293 tragédias ocorridas nas diferentes rotas migratórias, refere ainda que 131 barcos desapareceram sem deixar rasto, com todos os imigrantes que tinham a bordo.

Destaca-se o “aumento assinalável” este ano das saídas da Mauritânia, país que “se consolidou como o principal ponto de passagem migratória” para as Canárias. Nesta rota registaram-se 6.829 mortes.

Além disso, a rota da Argélia para as ilhas Baleares é também considerada uma das “mais perigosas” pela sua extensão e pela dificuldade da viagem, como também é o caso da rota do Atlântico, que termina na ilha canária de El Ferro.

Abril foi o mês que registou mais mortes, com 1.284, seguido dos meses de maio (1.103) e fevereiro (1.093).

As 10.457 mortes contabilizadas pela Caminando Fronteras referem-se a cidadãos de 28 nacionalidades diferentes.

A ONG analisa ainda as causas do aumento dos naufrágios, apontando a omissão do dever de prestar auxílio. Neste sentido, garante que “a falta de ativação atempada dos protocolos de resgate e a escassez de recursos nas operações de resgate têm aumentado as mortes”.

O controlo da imigração, sublinha, tem tido prioridade sobre o direito à vida, uma vez que as políticas nesta área se centram em impedir a chegada de migrantes, “mesmo à custa de vidas humanas”.

Outra das causas apontadas pela organização é a “externalização das fronteiras”: “A responsabilidade pelo resgate é transferida para países com recursos limitados, piorando a capacidade de resposta nestas emergências”, indica no relatório.

Muitos resgates, acrescenta, “não foram acionados a tempo”, mesmo quando a localização das embarcações em risco era conhecida.

“A falta de coordenação internacional e os atrasos na ajuda foram fatores determinantes para estes números devastadores”, sublinha.

A Caminando Fronteras acredita ainda que a “criminalização e estigmatização” das organizações sociais e familiares que alertam para as pessoas em risco afeta a eficácia das operações de resgate.

Perante a situação traçada, Helena Maleno, coordenadora da investigação, alerta para a “profunda falha” dos sistemas de salvamento e proteção e apela a que “se dê prioridade à proteção do direito à vida, que se reforcem as operações de busca e salvamento e que seja garantida justiça às vítimas e às suas famílias”.

O relatório destaca a presença de mulheres nas rotas migratórias, com maior percentagem nas travessias do Atlântico, especialmente nas rotas entre Agadir e Dakhla (Marrocos).

Estas mulheres, maioritariamente em trânsito, “enfrentam violência, discriminação, racismo, deportações e violência sexual”, refere o documento, que especifica que muitas viajam com crianças nascidas durante a viagem e sobrevivem em condições extremas através da mendicidade, da prostituição e de empregos precários, o que as torna mais vulneráveis ao recrutamento por redes de tráfico.