De acordo com a Kontras, grupo que procura acolher e ajudar os refugiados que chegam às praias de Aceh, um barco com um total de 219 pessoas a bordo, incluindo 56 crianças, chegou à ilha de Sabang na noite de terça-feira.
O número de refugiados muçulmanos de origem rohingya — uma minoria étnica vítima de repressão em Myanmar (antiga Birmânia) — que desembarcou na Indonésia no espaço de uma semana já ascende a 1.084 pessoas, das quais quase metade (465) são crianças.
Na sexta-feira, um barco com cerca de 240 pessoas a bordo ficou à deriva ao largo da costa da Indonésia durante várias horas, após duas tentativas de desembarque terem sido rejeitadas pelos residentes locais.
Também as autoridades indonésias negaram autorização ao navio para atracar na costa, uma decisão que suscitou críticas do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Durante o fim de semana, outros barcos, com mais de 500 rohingya a bordo, receberam autorização e conseguiram desembarcar em Aceh, no meio de uma nova vaga de refugiados que arriscam a vida para procurar refúgio noutros países da região.
Mais de 700 mil muçulmanos de origem rohingya fugiram de Myanmar, país de maioria budista, para campos de refugiados no Bangladesh, após uma repressão liderada pelo Exército em agosto de 2017 e numa altura em que Aung San Suu Kyi era a líder “de facto” do país.
Os refugiados dizem que os campos do Bangladesh estão sobrelotados e que têm de partir “novamente em busca de uma vida melhor”.
A maioria dos refugiados que deixaram os campos por mar tentaram chegar à Malásia, mas muitos acabaram na Indonésia.
Quase 3.500 rohingya embarcaram em travessias oceânicas do Mar de Andaman e da Baía de Bengala em 2022, e pelo menos 348 pessoas morreram ou desapareceram, estimou o ACNUR.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Jacarta, numa declaração escrita na quinta-feira passada, recordou que a Indonésia não ratificou a Convenção sobre os Refugiados de 1951.
Por conseguinte, a Indonésia não tem a obrigação de acolher refugiados e de lhes disponibilizar uma solução permanente.
“O alojamento foi concedido unicamente por razões humanitárias. Ironicamente, muitos países signatários da Convenção fecharam as portas e até implementaram uma política de rejeição dos refugiados”, afirmou Lalu Muhamad Iqbl, porta-voz do Ministério, num comunicado.
O mesmo responsável acrescentou que a decisão da Indonésia de fornecer abrigo temporário tem sido explorada por traficantes de pessoas.
“De facto, muitos deles [refugiados] foram identificados como vítimas de tráfico de seres humanos”, afirmou Iqbal.
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