“Quero saudar os penafidelenses pelo contributo que têm dado à literatura e à cultura nacional. Aquilo que fazem é algo excecional. Todos os anos convidam um autor vivo, trazem a obra para a rua e para as pessoas, levam o autor junto das pessoas, tiram-no da estante e das livrarias, e levam a sua obra à rua”, comentou.
Manuel Alegre falava na conferência de imprensa de abertura da edição de 2019 do Escritaria, evento que o vai homenagear até domingo, com várias iniciativas sobre a sua vida e obra.
À chegada à cidade, decorada por estes dias com arte pública em sua homenagem, o autor viu e ouviu atores declamar alguns dos seus poemas.
Aos jornalistas, afirmou: “É reconfortante. Já tive reconhecimentos vários, mas esta é uma coisa que palpita mais, que vai mais junto das pessoas”.
Acompanhado pelo presidente da câmara, Antonino Sousa, o autor prosseguiu: “Sinto-me muito honrado por ter sido convidado e ser durante uns dias um cidadão de Penafiel”.
Para Manuel Alegre, um evento com as características do Escritaria “tem um grande significado, na medida em que há cada vez menos livrarias”, onde “se veem cada vez menos autores clássicos e autores de qualidade”.
O autor sublinhou que nas livrarias prolifera atualmente “uma ‘subliteratura'”, que, anotou, “cria um grande equívoco”.
“Diz-se que se lê mais, mas lê-se menos de qualidade, dos grandes escritores e poetas de Portugal”, observou.
Por isso, insistiu aos jornalistas, “aquilo que se faz em Penafiel é algo de verdadeiramente exemplar”.
“Mais do que homenageado, estou aqui a homenagear esta iniciativa e agradecer, porque é algo de muito significativo para os escritores portugueses e para a literatura portuguesa, que está esquecida”, disse.
“Antigamente [na televisão] tínhamos o Vitorino Nemésio, a Natália Correia, o David Mourão-Ferreira e eu próprio fui muitas vezes à televisão falar de poesia e literatura. Hoje ouvimos programas intermináveis sobre futebol falado. Eu adoro futebol, mas não gosto muito do futebol falado. Os comentadores de futebol substituíram algumas das grandes figuras da literatura portuguesa”, acrescentou o escritor.
Para o autor homenageado, o Escritaria “está a ocupar um espaço que ficou vazio e que não devia estar vazio, não só nas televisões, mas também noutras instituições”, incluindo “quem tinha mais meios e mais poderes, a começar pelo Orçamento, para fazer mais pela cultura portuguesa no seu todo”.
Manuel Alegre concluiu: “Todos nós estamos em dívida para com esta iniciativa de Penafiel”.
Até domingo, o Escritaria, com vários convidados do mundo das letras, promove conferências, exposições, teatro de rua e música sobre a vida e a obra de Manuel Alegre, Prémio Camões 2017 e Prémio Pessoa 1999, o autor de “Praça da Canção” e de “O Canto e as Armas”.
Nas ruas do centro de Penafiel, e também nas fachadas do casario antigo da cidade, há vários elementos de arte de rua com excertos de poemas do autor.
Todas as atividades têm entrada gratuita.
Nas edições anteriores deste festival literário foram homenageados os escritores Urbano Tavares Rodrigues, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, Mia Couto, António Lobo Antunes, Mário de Carvalho, Lídia Jorge, Mário Cláudio, Alice Vieira, Miguel Sousa Tavares e Pepetela.
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