Em setembro deste ano, com o setor profissional da saúde em particular ebulição, Manuel Delgado confessou publicamente que era “um tormento” governar naquelas circunstâncias.
“Estamos a viver um fenómeno que tem aspetos muito positivos. Os portugueses perceberam, ao contrário do que lhes tinha sido vendido antes, que afinal o país podia crescer repondo vencimentos. (...) Esta expetativa criou uma perversão, que é a perversão de que tudo se pode conquistar rapidamente (…). Ficou a ideia errada de que não só podíamos avançar na reposição de rendimentos, mas que essa reposição era infinita”, afirmou Manuel Delgado à agência Lusa em finais de setembro, depois de ter deixado a mesma ideia numa conferência em Lisboa.
No Serviço Nacional de Saúde, lembrou o governante, são 130 mil profissionais “com carreira e remunerações muito diferentes e cada uma com os seus interesses próprios”. “É um mosaico tão complexo, por forma a conseguirmos ter propostas que sejam razoáveis para esse grupo profissional mas que não contaminem a relação que temos com outros grupos profissionais. Se dou dinheiro a este ou suplemento àquele grupo, imediatamente me caem em cima a dizer ‘eu também quero’”, declarou, na altura, Manuel Delgado. O secretário de Estado lembrou então que o Governo “não tem condições para responder a todas as reivindicações” que os profissionais apresentam, decorrendo daí a “dificuldade em chegar a acordos”.
“Este é o drama. Por isso é que dizia que é um tormento governar nestas circunstâncias”, afirmou Manuel Delgado à Lusa, depois de ter deixado a mesma ideia numa conferência organizada pela associação da indústria farmacêutica (Apifarma).
Licenciado em Economia e pós-graduado em Administração Hospitalar, Manuel Delgado esteve desde cedo ligado ao setor da saúde. Foi presidente do Conselho de Administração do Hospital Curry Cabral, do Hospital Pulido Valente e foi presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares durante mais de uma década.
Recentemente, o secretário de Estado da Saúde proferiu outras declarações polémicas, mostrando a sua desconfiança em relação à quantidade de baixas por gravidez de risco apresentadas pelos médicos e considerou "uma vergonha" as ausências no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Manuel Delgado pediu hoje a demissão do cargo de secretário de Estado da Saúde, dias depois da emissão de uma reportagem pela TVI, na qual se refere que foi contratado entre 2013 e 2014 pela associação "Raríssimas", com um vencimento de três mil euros por mês, tendo recebido um total de 63 mil euros.
O secretário de Estado alegou, logo após a emissão da reportagem, que se tratou de uma "colaboração técnica" com a associação Raríssimas e que nunca participou em decisões de financiamento.
Até ao momento não há contudo confirmação oficial sobre se o pedido de demissão teve ligação direta com a reportagem sobre a Raríssimas, em que documentos e entrevistas põem em causa a gestão da associação Raríssimas - Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras, financiada por subsídios do Estado e donativos.
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