Depois de um fim de semana de fortes ventos e chuvas, o mar junto à costa da Cidade Velha, na ilha de Santiago, ficou especialmente agitado na manhã de segunda-feira, ao ponto de destruir um muro de pedras ali edificado há 17 anos.
Sem obstáculos, o mar galgou a terra e avançou para dentro dos restaurantes localizados junto à orla, levando pedras, terra e transportando para longe mesas e cadeiras. Algumas paredes dos estabelecimentos comerciais foram destruídas.
“Esta tempestade trouxe alguns estragos, significativos, ao ponto de invadir o nosso restaurante, levando mesas e cadeiras, recuperadas pelos trabalhadores da Câmara Municipal” da Ribeira Grande de Santiago, disse à Lusa Nelson Alfama, da gerência do Restaurante Pelourinho, um dos mais emblemáticos da Cidade Velha, património da humanidade desde 2009.
A prioridade do restaurante foi garantir a “segurança aos clientes” e fazer uma limpeza que ainda continua, a cargo do estabelecimento comercial.
No chão, a terra é visível, mas a limpeza das pedras proporciona agora algum espaço limpo neste restaurante, onde as mesas já estão no lugar e à espera de clientes. No entanto, outros não tiveram a mesma sorte e ainda continuam encerrados.
No restaurante Pelourinho, as preocupações prendem-se agora com a eletricidade, uma vez que está situado ao nível do mar, o que “pode trazer muitos estragos ou danos ainda maiores”.
Ao lado, Luciano Barbosa já tem as mesas preparadas para receber os clientes do Restaurante Penedinho, que devido à tempestade deixou de ter esplanada. Em seu lugar, um monte de pedras trazidas pelo mar.
“A subida do mar deixou assim o pavimento, deixou-nos sem a esplanada, coisa que nunca vi na vida”, afirmou, referindo que em 17 anos de muro foi a primeira vez que o mar o conseguiu destruir.
Neste local, foram precisas de muitas mãos e horas para retirar “as pedras, areia e lamas” que o mar trouxe para o interior do restaurante. Recomeçou a funcionar na quinta-feira e o seu proprietário espera agora que as obras de reconstrução do muro avancem.
“Nunca vi uma tempestade tão forte”, disse Luciano Barbosa, há oito anos à frente do estabelecimento comercial. E aos turistas mais curiosos, que o questionam sobre o estado da orla marítima desta cidade histórica, responde apenas: “Foi a natureza”.
Para Bertoni, do Restaurante Praça do Mar, junto ao qual o muro ainda está erguido, por estar localizado num local mais alto, a agitação marítima custou três dias sem funcionar, só para retirar as pedras e lamas que invadiram o recinto.
Afastadas das mesas já postas para o almoço, são ainda visíveis centenas de pedras que para ali foram atiradas após serem retiradas da esplanada do restaurante.
“O mar encheu todo este lugar de pedras. Tivemos de retirar as cadeiras, mesas, para evitar prejuízos maiores. Ainda assim, o muro ajudou a travar o mar e as pedras”, disse.
Bertoni congratula-se com o facto de os clientes continuarem a chegar e afirmou mesmo que muitas pessoas se deslocaram até ao restaurante, pois estavam preocupadas e queriam saber o que tinha acontecido.
O susto foi grande, o maior desde que está à frente do restaurante, e Bertoni diz que “mesmo as pessoas bem mais velhas ficaram assustadas. Há muito tempo que não viam uma coisa assim”.
Para a Câmara Municipal da Ribeira Grande, a hora é de fazer contas aos estragos. A vereadora Cláudia Almeida, presidente em exercício, revelou à Lusa que estão contabilizados 10 milhões de escudos cabo-verdianos (cerca de 90 mil euros) de prejuízos.
A tempestade “trouxe enormes prejuízos para o município da Ribeira Grande de Santiago, não só atingiu aqui a orla marítima da Cidade Velha, mas também provocou estragos em outras localidades: Porto Mosquito, Pico Leão e localidade de Santana. Ao longo do município registaram-se vários estragos”.
A presidente em exercício da Câmara Municipal da Ribeira Grande afirma que a autarquia não tem condições para abarcar o custo da obra de recuperação do muro destruído e de outras intervenções necessárias e que estão a contar com o apoio do Governo, ao qual vão enviar informação detalhada sobre os estragos e os montantes necessários para os reparar.
Segundo Cláudia Almeida, esta tempestade teve “um impacto diferente, mais forte” e a previsão de mais chuva aumenta a preocupação dos responsáveis autárquicos.
“A orla marítima está completamente destruída e não tem proteção e temos habitações e estabelecimentos de serviços e hotelaria que ficaram completamente destruídos. Até põe em causa o sítio histórico, onde a inundação causou estragos”, disse.
Para a autarca, existirão “mais consequências se não forem tomadas com urgência medidas para repor a normalidade da orla marítima”.
“O mar tem o caminho aberto e estamos preocupados. Estamos em articulação com a Polícia Marítima e a Polícia Nacional, que têm vigias a assistir ao estado do mar para que, no caso de uma alteração de maior, poderem fazer uma evacuação com caráter de urgência”, acrescentou.
Comentários