Questionado se o seu corpo de segurança estava informado dessa situação, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Não, não havia informação. E não sei mesmo — isso é um problema de matéria classificada — até que ponto é que não faz parte da estratégia da fiscalização dar espaço de liberdade a quem pode ser uma pista para encontrar outras estruturas para efeitos posteriores”.
O chefe de Estado falava à comunicação social, à margem do festival IndieLisboa, na Culturgest, a propósito da notícia divulgada na segunda-feira pelo Diário de Notícias sobre Yasser A., um iraquiano que se encontra preso preventivamente juntamente com o irmão, Ammar A., indiciados por crimes de terrorismo e contra a humanidade, suspeitos de pertencerem ao Daesh.
De acordo com o Diário de Notícias, Yasser A., era um dos empregados que estavam presentes na visita que o primeiro-ministro, António Costa, e o antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, realizaram em janeiro de 2018 ao restaurante Mezze, em Arroios, Lisboa, reconhecido pela integração de refugiados, que também foi visitado por Marcelo Rebelo de Sousa, em junho do mesmo ano.
Ainda segundo o Diário de Notícias, na altura o suspeito tinha 29 anos e já estava a ser investigado pela Polícia Judiciária desde julho de 2017, não havendo confirmação da sua presença durante a visita do chefe de Estado.
“Antes desse almoço houve uma preparatória, não havia nenhuma contraindicação de segurança”, referiu o Presidente da República, nas declarações que prestou aos jornalistas sobre esta notícia.
O chefe de Estado relativizou a situação: “Por outro lado, eu passo a vida na praia, no hipermercado a fazer compras. Como imaginam, é muito difícil eu ter a certeza de que as pessoas que estão ali ao lado não virão mais tarde a ser consideradas ou já são consideradas suspeitas de serem ou não terroristas”.
Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que, mesmo se o suspeito já estivesse a ser vigiado, isso “isso não o limitava” em termos de circulação pelo país: “Podia encontrar-se comigo, com qualquer outro cidadão, numa praça pública, num supermercado”.
Segundo o Diário de Notícias, os dois irmãos iraquianos “estavam em Portugal desde 2017 ao abrigo do programa de recolocação para refugiados da União Europeia” e Yasser começou a trabalhar no restaurante Mezze ”nesse ano, depois de fazer uma formação como empregado de mesa”.
Na nota que foi publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet sobre a visita de Marcelo Rebelo de Sousa a este restaurante, em 7 de junho de 2018, lê-se que “o Presidente da República ofereceu, no restaurante Mezze, em Lisboa, um almoço aos embaixadores dos Estados-membros da União Europeia (UE) e dos países candidatos acreditados em Portugal”.
“No início do almoço usaram da palavra o Presidente da República e o embaixador da República da Bulgária em Lisboa, embaixador Vassiliy Christov Takev, país que ocupa atualmente a Presidência do Conselho da União Europeia, e que falou em nome dos embaixadores presentes”, acrescenta-se, na mesma nota.
À margem do IndieLisboa, o chefe de Estado foi também interrogado sobre as críticas que Francisco Pinto Balsemão, presidente do grupo Impresa e antigo primeiro-ministro, lhe dirigiu recentemente, designadamente no seu livro "Memórias", Editado pela Porto Editora.
"O Presidente da República respeita o exercício da liberdade de todos, neste caso o doutor Pinto Balsemão. O cidadão Marcelo Rebelo de Sousa o que tinha a dizer já disse há mais de dez anos. O Presidente da República respeita essa liberdade e este na homenagem a quem mereceu ser homenageado", respondeu.
Sobre a intenção manifestada por PS e PSD de não renovarem a obrigatoriedade de uso de máscara na rua para conter a propagação da covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa declarou não se opor, tratando-se de "uma decisão soberana da Assembleia da República" e "com uma maioria clara como essa".
Na sua opinião, nesta matéria, "cada cidadão deve fazer aquilo que em consciência entende que deve fazer, portanto não se proíbe quem queira continuar a usar a máscara".
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