O chefe de Estado falava na Sala do Senado da Assembleia da República, no final de uma cerimónia em que entregou o entregou o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa 2017 aos secretários-gerais da Cruz Vermelha da Finlândia, Kristiina Kumpula, e do Quénia, Abbas Gullet.

Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, "no tempo da globalização, em que tantas vezes se privilegia o contacto entre a Europa e as potências asiáticas, é essencial não perder de vista a exigência de fomentar o encontro, o diálogo, a convergência, permanentemente, com o hemisfério sul do planeta".

"Num tempo marcado pelo flagelo dos fundamentalismos, a que a Norte se responde com populismos xenófobos e ultranacionalistas, devemos estar conscientes das implicações globais de tudo quanto fazemos", acrescentou.

Num discurso de oito minutos, o Presidente da República apelou à solidariedade e à interdependência global, argumentando: "As fronteiras, linhas artificiais que os Estados traçaram ao longo dos séculos, não têm qualquer valor quando lidamos com fenómenos como as migrações, os refugiados, o tráfico de seres humanos, as tragédias humanitárias, o terrorismo, a criminalidade transnacional, as alterações climáticas e outras ameaças ao planeta".

"De que serviram as fronteiras aquando da tragédia de Chernobyl? Acaso elas pararam as nuvens radioativas vindas de leste? De que nos valeram as fronteiras quando um vulcão na Islândia mergulhou a Europa em cinzas e obrigou ao corte do tráfego aéreo? Para que erguemos barreiras à entrada de seres humanos, vítimas de guerras e de desastres trágicos?", questionou.

O Conselho de Europa é uma organização internacional de promoção dos direitos humanos fundada a 05 de maio de 1949, com 47 Estados-membros, incluindo todos os países da União Europeia.

Marcelo Rebelo de Sousa considerou que o Prémio Norte-Sul "mantém uma enorme atualidade", porque "este diálogo e este encontro de civilizações são hoje mais prementes do que nunca".

"E Portugal sente-se honrado por constituir a sede do centro e da simbólica atribuição do prémio, lugar geométrico do diálogo sem cessar entre o Sul e o Norte, o Norte e o Sul", disse.

O princípio da não-discriminação, inscrito na Constituição da República Portuguesa, está "exemplarmente plasmado neste prémio", entregue a "mulheres e homens de todos os pontos do mundo, sem distinções de qualquer espécie", referiu.

Marcelo Rebelo de Sousa elogiou Abbas Gullet e Kristiina Kumpula e a Cruz Vermelha Internacional pelo seu "trabalho humanitário absolutamente ímpar".

"Como Presidente da República de Portugal, uma democracia inclusiva e uma sociedade aberta e inclusiva, quero dizer apenas aos premiados duas palavras simples, mas sentidas e emocionadas: muito obrigado", concluiu.

O chefe de Estado não prestou declarações aos jornalistas à entrada nem à saída desta cerimónia.