“Porque podemos pedir aos nossos investigadores, aos nossos pesquisadores, aos nossos cientistas que dediquem todo o seu empenho sistematicamente a missões, às vezes quase impossíveis, um ano, dois anos, cinco anos, dez anos, às vezes décadas, mas é legítimo que eles sintam que a sociedade, como um todo, sabe corresponder à sua dedicação, à sua devoção”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República falava na sessão solene “O conhecimento como Compromisso para o Futuro”, inserida no ciclo da conferência “Caminhos do Conhecimento – O legado de Mariano Gago”, do Dia Nacional dos Cientistas, que se realizou no Porto.

Ressalvando que o que o preocupa “não é tanto o desafio do negativismo, de que falava Mário Soares”, porque o tem combatido desde o primeiro dia do seu mandato, “por entender que é um desperdício nacional perdermo-nos em quezílias menores, olhando para aquilo que é negativo e subavaliando aquilo que temos de positivo entre nós”, Marcelo Rebelo de Sousa disse estar, sobretudo, preocupado com o facto do “ódio à liberdade” significar “a negação do espírito científico”.

“Este não é um problema português, é um problema contemporâneo mais generalizado. Nas opiniões públicas surge, por detrás dos chamados populismos, a dificuldade em conviver com a liberdade e em conviver com o conhecimento, com a ciência e com a cultura. E, portanto, em aceitar a primazia social dos protagonistas da ciência e da cultura. Eles são tolerados, eles existem, quando premiados é reconhecido o seu talento, mas a sociedade tantas vezes não parece predisposta a ir mais longe e a perceber que eles trabalham num domínio que constitui uma prioridade nacional”, alertou.

E isso, acrescentou “é preocupante na linguagem utilizada, é preocupante no simplismo do pensamento, é preocupante na ausência de referências culturais, é preocupante por vezes na compreensão do papel da ciência”.

“E nós iludimo-nos. Nós os que operamos nessa área, porque todos os dias convivemos com académicos, todos os dias convivemos com o mundo da cultura ou o mundo da ciência, pensamos que estamos a conviver com toda a sociedade que nos envolve. Puro engano, há, portanto, aqui um esforço que implica participação pública, mas implica mais do que isso, uma luta cultural por valores sem os quais não há liberdade, nem democracia e a luta pela liberdade e pela democracia é quotidiana, é permanente, não são realidades adquiridas, menos o é a prioridade científica para o nosso país. Pode parecer estranho, mas é assim”, sublinhou.

O Presidente da República terminou a sua intervenção recordando mais uma vez Mário Soares: “os cientistas portugueses são os novos descobridores que restituirão o mundo a Portugal e Portugal ao mundo. Não apenas o mundo desta nossa casa planetária, mas o universo do infinitamente grande e do infinitamente pequeno”.

“Hoje um, amanhã 500 mil. É esse o desafio nacional”, acrescentou, citando também a cientista Maria de Sousa: