Em declarações aos jornalistas, na varanda do Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que na visita que fez "de surpresa" na segunda-feira àquele bairro no Seixal, distrito de Setúbal, verificou "as condições sociais e o projeto de realojamento" e fez questão de contactar "com todos, sem exceção".
"Porque eu sou Presidente de todos os portugueses", salientou, acrescentando: "Portanto, eu, normalmente, quando pela rua contacto com os portugueses, não peço o cadastro criminal, nem o cadastro fiscal, nem o cadastro moral para falar com eles ou tirar 'selfies' - não, é com todos".
O chefe de Estado respondeu assim a quem, como o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP), Paulo Rodrigues, o criticou pela visita que fez, sem anúncio prévio e sem comunicação social, ao bairro de Vale de Chícharos, também conhecido como bairro Jamaica, 15 dias depois de se terem registado incidentes com a polícia naquele local - que levaram à abertura de um inquérito pelo Ministério Público e de outro pela direção nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP).
A propósito desses incidentes ocorridos no dia 20 de janeiro e da sua posterior visita ao bairro, Marcelo Rebelo de Sousa considerou também que só diminui as forças de segurança alimentar a ideia de que estão em confronto, no mesmo plano, com qualquer comunidade, equiparando-as a estas.
"Não compreendo, francamente, como se pode equiparar comunidades e forças de segurança. São coisas diferentes", disse, respondendo a quem viu na sua visita um gesto de desconsideração pelas forças de segurança ou a opção por um dos lados de um conflito.
"As forças de segurança só ganham em perceber que, ao alimentarem a ideia de que há um confronto no mesmo plano com qualquer comunidade sobre a qual têm de exercer autoridade, estão a diminuir-se", reforçou.
Segundo o Presidente da República, "os portugueses percebem facilmente" que naquele bairro "não houve uma guerra de um bairro negro contra uma polícia branca, ou de uma polícia branca contra um bairro negro, não houve nada disso".
"Houve e há uma comunidade portuguesa, um bairro português, que é um bairro que tem problemas críticos, habitacionais, como muitos outros, embora com um plano de realojamento. E há e houve forças de segurança, uma polícia portuguesa, que exerce a sua função ao serviço do Estado de direito democrático, como eu disse desde a primeira hora", contrapôs.
Interrogados se não deveria ter visitado o bairro Jamaica depois de conhecidos os resultados das investigações em curso, respondeu: "Não, porque precisamente eu tinha, desde o primeiro momento, separado os factos em investigação do Ministério Público da realidade global. Eu disse 'não se pode generalizar', que é o que muita gente começou a fazer na sociedade portuguesa, criando um clima de uma guerra racial".
"Foi precisamente contra esse clima de guerra racial que eu fui, para dizer: não, é um bairro tão português como todos os bairros portugueses, e há muitos que têm os problemas sociais e habitacionais como aquele. Em segundo lugar: não se pode confundir pontos que estão em investigação com uma comunidade portuguesa integrada e com forças de segurança que servem o Estado de direito democrático, todos os dias", reforçou.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que "a última coisa de que Portugal necessita neste momento é de haver qualquer tipo de comportamento que crie um empolamento artificial na sociedade portuguesa e um conflito de raças, um conflito racial, que é uma porta aberta à xenofobia e ao radicalismo que deu o resultado que deu noutros países".
Segundo o Presidente da República, isso é algo que "os portugueses também percebem".
[Notícia atualizada às 20h]
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